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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Esta é a nossa fé – 29 – E o seu reino não terá fim



No «Credo» niceno-constantinopolitano, o artigo dedicado a Jesus Cristo termina com a afirmação da vitória final: «e o seu reino não terá fim». Qual é o reino de Jesus Cristo? Quando é que começa? Este tema será de novo aprofundado quando nos referirmos, no final do «Credo», à esperança na ressurreição e na vida «do mundo que há de vir» (Catequeses 40 e 41).
Para compreender melhor, leia:
- 1 Cor 15, 20-28;
- Catecismo da Igreja Católica, números 668-682.

«É necessário que Ele reine até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés»
Afirma Paulo na Primeira Carta aos Coríntios, ao refletir sobre a vitória obtida com a ressurreição de Jesus Cristo. A seguir acrescenta: «O último inimigo a ser destruído será a morte». Paulo mostra-nos que a vitória definitiva de Jesus Cristo acontece com a vitória sobre a morte. Ora, isso já aconteceu, pois a ressurreição é a manifestação dessa vitória. No entanto, ainda não está totalmente concluída, uma vez que o pecado e a morte continuam presentes nesta nossa existência terrena. De fato, todos podemos constatar que Jesus Cristo «não eliminou a morte biológica: o organismo do ser humano, como o de qualquer ser vivo, corrompe-se e acaba por sucumbir. Porque é que dizemos então que Ele venceu a morte? Ele venceu-a porque a privou do seu sentido de destruição total do ser humano e transformou-a no nascimento duma vida plena e definitiva. Ele foi o primeiro a percorrer esse caminho e com Ele chegam à vida de Deus todos os que morrem com Ele» (Fernando Armellini, «O banquete da Palavra. Ano A», Paulinas, Lisboa 1995, 415). Em Jesus Cristo a história já atingiu a plenitude, mas ainda não se consumou o final dos tempos. Aí, será instaurado definitivamente o Reino, para que «Deus seja tudo em todos».

Esta é a nossa fé – 28 – Para julgar os vivos e os mortos



A vinda gloriosa de Jesus Cristo está associada, no «Credo», ao juízo no final dos tempos. Ao proclamarmos que Jesus Cristo «há de vir em sua glória», acrescentamos que essa vinda será «para julgar os vivos e os mortos».
Para compreender melhor, leia:
- Mt 25, 31-46;
- Catecismo da Igreja Católica, n. 678-682.

«Perante Ele, vão reunir-se todos os povos»
É o que diz S. Mateus para ilustrar o encontro definitivo com Jesus Cristo. A este propósito, o papa Francisco disse: «À direita são postos aqueles que agiram segundo a vontade de Deus, socorrendo o próximo faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e prisioneiro [...] e à esquerda estão quantos não socorreram o próximo. Isto diz-nos que nós seremos julgados por Deus segundo a caridade, segundo o modo como o tivermos amado nos nossos irmãos, especialmente os mais frágeis e necessitados. Sem dúvida, devemos ter sempre bem presente que somos justificados e salvos pela graça, por um gesto de amor gratuito de Deus, que sempre nos precede; sozinhos, nada podemos fazer. A fé é antes de tudo um dom que recebemos. Mas para que dê fruto, a graça de Deus exige sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem trazer-nos a misericórdia de Deus que salva. É-nos pedido que confiemos n’Ele, correspondendo ao dom do seu amor com uma vida boa, feita de gestos animados pela fé e pelo amor. Nunca tenhamos medo de olhar para o Juízo final; ao contrário, que ele nos leve a viver melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e paciência, a fim de aprendermos todos os dias a reconhecê-lo nos pobres e nos pequeninos, de trabalharmos para o bem e de sermos vigilantes na oração e no amor» (Audiência Geral de 24 de abril de 2013).

Esta é a nossa fé – 27 – De novo há de vir em sua glória



Há uma mudança nos tempos verbais! Até agora o conteúdo do «Credo» situou-se no passado e no presente da História da Salvação. Agora, aponta para o tempo futuro: uma realidade marcada pela vinda gloriosa de Jesus Cristo.
Para compreender melhor, leia:
- Jo 14, 1-6;
- Catecismo da Igreja Católica, n. 668-677.

«Virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim»
Diz Jesus Cristo aos discípulos, no contexto do longo discurso de despedida relatado no evangelho de João. À proximidade com os seus discípulos, lavando-lhes os pés e insistindo o mandamento do amor, mistura-se a tensão do anúncio das negações de Pedro e da traição de Judas (cf. Jo 13). Agora, Jesus percebe que o rosto e o coração dos discípulos estão perturbados. Por isso, anima-os a ter fé, a ter confiança nele e no Pai. Tranquiliza os seus amigos. Apesar de todas as contrariedades e situações difíceis, explica-lhes que a esperança humana será levada à plenitude. Porque, no coração de Deus, há lugar para todos os seus filhos. A exortação à confiança está também associada à «partida» de Jesus Cristo para a «casa» do Pai onde preparará um «lugar» para os seus amigos. Mas não devem ficar tristes, pois não se trata de um abandono definitivo; ele voltará: «virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim». Os discípulos não compreendem. Em nome de todos, Tomé assume essa incompreensão. Ainda não entenderam qual é a meta nem o caminho para lá chegar: «Não sabemos para onde vais, como podemos saber o caminho?». A resposta está no próprio Jesus Cristo. Ele é o caminho. «Jesus esclarece os discípulos de que a sua partida é abrir caminho para a casa do Pai, a meta final para todos» (Bíblia Sagrada, Nota ao texto de João 14,2-3, Difusora Bíblica, 1758).

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esta é a nossa fé – 26 – Onde está sentado à direita do Pai



A profissão de fé na Ascensão de Jesus Cristo («subiu aos Céus») tem um complemento que acrescenta: «onde está sentado à direita do Pai». Qual é o sentido desta afirmação? Há um simbolismo relacionado com esta terminologia sobre o qual vamos refletir.
Para compreender melhor, leia:
- Salmo 110 (109);
- Catecismo da Igreja Católica, números 659 a 667.

«Disse o Senhor ao meu senhor: ‘Senta-te à minha direita’»
Os exegetas (estudiosos da Bíblia) sugerem que se trata de um texto sobre a realeza. Neste sentido, a expressão «ao meu senhor» refere-se ao rei (cf. Bíblia Sagrada, Introdução ao Salmo 110, Difusora Bíblica, 957). Contudo, em vários textos do Novo Testamento, inclusive nos evangelhos, esta expressão é usada para se referir a Jesus Cristo. Por exemplo, nos Atos dos Apóstolos, Pedro serve-se deste salmo para anunciar a ressurreição de Jesus Cristo: «David não subiu ao Céu, mas ele próprio diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita [...]. Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado» (2, 34-36). No mesmo sentido podemos entender a afirmação no final do evangelho segundo Marcos: «O Senhor Jesus [...] foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus» (16, 19). Esta relação com Jesus Cristo é também confirmada pelo próprio, quando do julgamento no tribunal judaico. Trata-se de uma referência comum aos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). O próprio Jesus Cristo responde: «O Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus» (Lucas 22, 69). «Utilizando o Salmo 110, Jesus anuncia o começo do Reinado messiânico que, a partir da sua Páscoa, será reconhecido pela Igreja» (Bíblia Sagrada, Nota ao texto de Lucas, Difusora Bíblica, 1721).

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Esta é a nossa fé – 25 – E subiu aos Céus



Estamos no coração da nossa fé cristã — dissemos a propósito das catequeses anteriores: «Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras». Agora, continuando a reflexão central da fé cristã, afirmamos a Ascensão de Jesus Cristo: «subiu aos Céus».
Para compreender melhor, leia:
- At 1, 1-11;
- Catecismo da Igreja Católica, números 659 a 667.

«Elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos»
Descreve o início do livro dos Atos dos Apóstolos, ao referir-se à Ascensão de Jesus, depois de se ter mostrado (aparecido) vivo «durante quarenta dias» aos discípulos. Nesta frase, podemos considerar dois temas: a subida e a nuvem. «Com esta expressão — ‘elevou-se à vista deles’ —, que corresponde à experiência sensível e espiritual dos apóstolos, evoca-se o movimento ascensional, uma passagem da terra ao céu, sobretudo como sinal de outra ‘passagem’: Cristo passa ao estado de glorificação em Deus. O primeiro significado da Ascensão é precisamente este: revelar que o Ressuscitado entrou na intimidade celestial de Deus» (João Paulo II, Audiência Geral de 12 de abril de 1989). A temática da nuvem completa esta dimensão com o sinal bíblico da presença de Deus. Entre outros, «a nuvem recorda-nos o momento da transfiguração, em que uma nuvem luminosa pousou sobre Jesus e os discípulos (cf. Mt 17,5; Mc 9,7; Lc 9,34-35). Recorda-nos a hora do encontro entre Maria e o mensageiro de Deus, Gabriel, o qual lhe anuncia que a força do Altíssimo ‘estenderá sobre ela a sua sombra’ (cf. Lc 1, 35). Recorda-nos a tenda sagrada de Deus na Antiga Aliança, onde a nuvem é o sinal da presença do Senhor (cf. Ex 40,34-35), o qual, inclusive durante a peregrinação no deserto, precede Israel como nuvem (cf. Ex 13,21-22). A afirmação sobre a nuvem é claramente teológica. Apresenta o desaparecimento de Jesus não como uma viagem em direção às estrelas, mas como a entrada no mistério de Deus» (Bento XVI, «Jesus de Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, 228).

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Esta é a nossa fé – 24 – Conforme as Escrituras



No «Credo niceno-constantinopolitano», proclamamos que a ressurreição de Jesus Cristo aconteceu «ao terceiro dia, conforme as Escrituras». Nesta catequese continuamos a refletir sobre a Ressurreição (cf. catequese 23), para perceber que o acontecimento está relacionado com as promessas do Antigo Testamento e com as palavras (e a vida) de Jesus Cristo.
Para ajudar a compreender melhor, leia:
- 1 Cor 15, 1-11;
- Catecismo da Igreja Católica, números 638 a 658

«Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras»
Escreve Paulo, por volta do ano 56, na Primeira Carta aos Coríntios. Para esclarecer qualquer dúvida que existisse entre os cristãos de Corinto — «como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos?» (15, 12), Paulo recorda o conteúdo central da «confissão de fé» aceita pelas comunidades cristãs e constituída por dois acontecimentos inter-relacionados: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Hoje, esta afirmação paulina é apresentada como «a profissão de fé mais importante e significativa» (José Antonio Pagola, «Jesus. Uma aproximação histórica», Vozes) dos primeiros anos do cristianismo, «o primeiro e mais antigo testemunho escrito sobre a ressurreição de Cristo» (João Paulo II, Audiência Geral de 29 de janeiro de 1989). Bento XVI a considera a «chave da cristologia paulina: tudo gira à volta deste centro gravitacional. Todo o ensinamento do apóstolo Paulo parte do e chega sempre ao mistério daquele que o Pai ressuscitou da morte» (Bento XVI, «A alegria da fé», Paulinas Editora, Prior Velho 2012, 40-41). Neste texto, sai reforçada a garantia de que a morte e a ressurreição fazem parte do plano salvador de Deus.

domingo, 9 de junho de 2013

Esta é a nossa fé – 23 – Ressuscitou ao terceiro dia



A ressurreição de Jesus Cristo está na base da fé cristã (cf. CIC, 571). A afirmação da ressurreição é o primeiro «credo» cristão. O cristianismo tem o seu primeiro fundamento no «acontecimento pascal»: morte e ressurreição de Jesus Cristo. «Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé» — escreve Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (15,14). Os discípulos revelam que há um acontecimento que transforma as suas vidas: o crucificado ressuscitou, está vivo.
Para ajudar a compreender melhor, leia:
- At 10, 34-43;
- Catecismo da Igreja Católica, números 638 a 658.

«Deus o ressuscitou, ao terceiro dia»
Afirma Pedro na casa do centurião romano Cornélio. Os evangelhos (Mt 28, Mc 16, Lc 24, Jo 20) descrevem a experiência pessoal («aparição») dos discípulos que testemunham o Crucificado-Ressuscitado. No discurso de Pedro, em Cesareia, na casa de Cornélio percebe-se que a ressurreição não é fruto de um acaso ou um fato isolado; a ressurreição é o culminar do estilo de vida assumido por Jesus Cristo, é a plenitude da sua missão. Em primeiro lugar, Pedro afirma que Jesus de Nazaré foi «ungido» por Deus; depois, refere a ação realizada por Jesus em diversos lugares («fazendo o bem»; «curando»); em seguida, Pedro testemunha a morte na cruz («madeiro») e a ressurreição ao terceiro dia; o discurso termina com as consequências da fé cristã neste «acontecimento pascal». Há uma nova maneira de viver, iluminada pela existência terrena de Jesus Cristo que culmina com a ressurreição.

Esta é a nossa fé – 22 – E foi sepultado



A temática que estamos refletindo — crucificação e morte de Jesus Cristo — termina com uma expressão forte: «e foi sepultado». Com esta afirmação fica de lado qualquer suspeita sobre a morte de Jesus Cristo. Além disso, «a permanência do corpo de Cristo no túmulo constitui o laço real entre o estado passível de Cristo antes da Páscoa e o seu estado glorioso atual de ressuscitado» (CIC, 625).
Para ajudar a compreender melhor, leia:
- Lc 23, 50-56;
- Catecismo da Igreja Católica, números 624 a 630.

«Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro»
É assim que o evangelho segundo Lucas descreve a ação de José de Arimateia, um «homem reto e justo [...] que esperava o Reino de Deus». De acordo com os procedimentos romanos (cf. catequese 20), o crucificado ficava abandonado na cruz sem ter direito a sepultura. «Enquanto os romanos abandonavam os corpos dos justiçados na cruz aos abutres, os judeus faziam questão de que eles fossem sepultados; havia lugares atribuídos pela autoridade judiciária para isso mesmo. Neste sentido, o pedido de José enquadra-se nos costumes judiciários judaicos. [...] Sobre a própria deposição, os evangelistas transmitem-nos uma série de informações importantes. Antes de mais sublinha-se que José foi depositar o corpo do Senhor num sepulcro novo, de sua propriedade, no qual ainda ninguém fora sepultado (cf. Mt 27, 60; Lc 23, 53; Jo 19, 41). Nisto se dá prova de um respeito profundo por este defunto. Assim como no ‘Domingo de Ramos’ Ele se serviu de um jumentinho que ainda ninguém montara (cf. Mc 11, 2), assim também agora é depositado num sepulcro novo» (Bento XVI, «Jesus de Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição»)

terça-feira, 4 de junho de 2013

Esta é a nossa fé – 21 – Padeceu



Nesta catequese damos continuidade à reflexão anterior (20: Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos) para aprofundar os sofrimentos associados à morte de Jesus Cristo. A expressão usada no «Credo» é «padeceu». Trata-se de uma palavra «que, no Credo, resume toda a vida de Jesus: entre o seu nascimento e a sua morte, Ele sofreu» (Christophe Dufour, «Cinco pequenas catequeses sobre o Credo», Edições Salesianas, Porto 2012, 46). Podemos saber o que terá acontecido? «A fé pode esforçar-se por investigar as circunstâncias da morte de Jesus» (Catecismo da Igreja Católica, 573).
Para compreender melhor, leia:
- Mc 14, 32 - 15, 41;
- Catecismo da Igreja Católica, números 571 a 623 

«Pilatos depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado»
Refere o evangelho segundo Marcos sobre um dos momentos que antecedeu a crucificação de Jesus e que lhe infligiu grande sofrimento. Além dos relatos evangélicos, existem testemunhos históricos (por exemplo: Flávio Josefo e Tácito) que documentam o que sucedeu a Jesus Cristo. É certo que, entre os romanos, a flagelação era uma das etapas da condenação à morte na cruz. A cruz, como instrumento de suplício, é de origem persa. Gregos, cartagineses e romanos aplicavam-na como pena capital aos criminosos (cf. tema 20). Além da flagelação, os relatos indicam que Jesus foi coroado de espinhos e ultrajado, antes de ser crucificado. «Os soldados de Pilatos começaram realmente a intervir de maneira oficial quando o prefeito lhes deu ordem para flagelarem Jesus. A flagelação, neste caso, não era um castigo independente, nem mais um jogo dos soldados. Formava parte do ritual da execução» (José Antonio Pagola, «Jesus. Uma aproximação histórica»). 

Esta é a nossa fé – 20 – Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos



O «Credo», como já dissemos na catequese anterior (19: «e se fez homem»), passa da referência à encarnação e nascimento para a condenação e morte de Jesus Cristo: «Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado». Neste tema, refletimos sobre a primeira parte desta afirmação.
Para ajudar a compreender melhor, leia:
- At 13, 26-29;
- Catecismo da Igreja Católica, números 595-623 

«Exigiram a Pilatos que o mandasse matar»
Proclama Paulo na catequese descrita no capítulo treze do livro dos Atos dos Apóstolos. «A tradição cristã elaborou respostas, a catequese forjou fórmulas: Jesus morto pelos nossos pecados, o sacrifício que dá a vida. Com o risco de, por vezes, nos fazer esquecer o choque que representavam para os primeiros discípulos o fracasso e a condenação à morte do seu mestre. [...] A sentença e a execução foram romanas. Mas a acusação política [...] parece mais uma montagem jurídica doutro processo. [...] O verdadeiro conflito foi religioso [...]. Era preciso que a questão fosse vital para Jesus e mortal para as autoridades religiosas para se chegar a uma tal ruptura» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro, Porto 1993, 97-98). 

sábado, 11 de maio de 2013

Esta é a nossa fé — 19 — E se fez homem



A segunda parte do (segundo) artigo do «Credo» sobre Jesus Cristo termina com a afirmação: «e se fez homem». Em Jesus Cristo, Deus humaniza-se e vive a condição humana na sua totalidade, exceto no pecado. Jesus Cristo leva à plenitude a nossa humanidade. É modelo para todo o ser humano que deseja alcançar a plena realização pessoal. Nesta simples afirmação — «e se fez homem» — está condensada toda a vida (privada e pública) de Jesus Cristo.
Para ajudar a compreender melhor, ler:
- Lucas 2, 39-52;
- Catecismo da Igreja Católica, nn. 512 a 570

«Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» — assim resume o evangelho segundo Lucas a vida de Jesus entre os doze e os trinta anos de idade. Para perceber o que é relatado pelo evangelista, é preciso ter em conta que, na mesma casa, viviam os avós, os pais, os filhos, os tios, os primos, todos os que constituíam o mesmo núcleo familiar. É este grande clã familiar que se desloca a Jerusalém. Assim, já não é tão estranho que Jesus tenha ficado no Templo, «sem que os pais o soubessem». Seria possível apenas Maria e José perderem Jesus?! Este relato é muito rico em ensinamentos teológicos. Trata-se de um episódio que nos ajuda a perceber que Jesus começa a assumir a sua própria perspetiva de vida. O início da vida adulta acontecia aos doze anos. A maioria dos rapazes e moças casavam por volta dessa idade, num tempo em que aos quarenta anos já se era «velho». Ao colocá-lo «no meio dos doutores», o evangelista prepara-nos para o que vai ser a vida de Jesus: a fidelidade à sua missão.
Os primeiros anos de vida relatados nos evangelhos canônicos estão reduzidos à narração dos episódios referentes ao anúncio e nascimento de Jesus acrescidos de três acontecimentos: a fuga para o Egito (evangelho segundo Mateus) e duas situações — a «apresentação» e, mais tarde, a «perda» aos doze anos (evangelho segundo Lucas) — no Templo de Jerusalém. Estas duas últimas narrações terminam com um resumo que define a autenticidade da natureza humana da criança (Lc 2, 40.52): «Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele. [...] Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens».

Esta é a nossa fé — 18 — No seio da Virgem Maria



No mistério da Encarnação do Filho de Deus há a participação de uma jovem de Nazaré: Maria. Não podemos separar Maria de Jesus, a Mãe do Filho. «O que a fé católica crê, a respeito de Maria, funda-se no que crê a respeito de Cristo. Mas o que a mesma fé ensina sobre Maria esclarece, por sua vez, a sua fé em Cristo» — refere o Catecismo da Igreja Católica (n. 487). No «Credo» proclamamos que Jesus «encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria». O grande acontecimento da Encarnação do Filho tem origem no Pai e concretiza-se pela ação do Espírito Santo «no seio da Virgem Maria».
Para ajudar a compreender melhor, ler:
- Lucas 2, 1-20;
- Catecismo da Igreja Católica, números 487 a 511

«Completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho» — eis o culminar do mistério da Encarnação concretizado no nascimento. No relato do evangelista Lucas, estando em Belém, Maria deu à luz o seu filho, a quem será posto o nome de Jesus. Podemos dizer que a vinda de Deus ao nosso mundo através de Jesus, um ser humano, um ser de carne e osso, é o resultado natural da forma como se desenrola toda a História da Criação e da Salvação. Deus quis precisar da colaboração livre da jovem de Nazaré, Maria. Através do seu «sim» descrito na «Anunciação», tem início a geração do Filho de Deus «no seio da Virgem Maria».

Esta é a nossa fé — 17 — E encarnou pelo Espírito Santo



Nós, cristãos, acreditamos que o menino a quem foi dado o nome de Jesus (filho de José e de Maria), que nasceu (em Belém) e viveu (em Nazaré) num determinado contexto histórico (no tempo do rei Herodes) e geográfico (na Palestina) é o próprio Deus que se humaniza, que vem habitar na nossa história. A este mistério, que nunca seremos capazes de compreender na totalidade, chamamos «Encarnação». Este grande acontecimento tem origem no Pai e concretiza-se pela ação do Espírito Santo.
Para ajudar a compreender melhor, ler:
- Lucas 1, 26-35;
- Catecismo da Igreja Católica, nn. 461 a 486

        «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra» — comunica o anjo Gabriel a Maria, no episódio da «Anunciação» relatado pelo evangelista Lucas. No diálogo, Maria parece pedir ajuda para compreender o que acaba de lhe ser dito: «Como será isso [...]?». O mensageiro de Deus explica-lhe as circunstâncias especiais desta concepção: «O Espírito Santo virá sobre ti». A presença do Espírito remete-nos para o ato criador de Deus (cf.
catequese 5). Agora, com este «anúncio» Deus realiza uma nova criação! Também a afirmação seguinte — «e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra» — está profundamente ligada a referências bíblicas: a «nuvem» que cobre a tenda da reunião (Ex 40, 34) ou a «nuvem» que enche o templo (1Rs 8, 10), são alguns exemplos. Agora, Deus inaugura uma nova forma de presença: a «nuvem» dá lugar a uma Pessoa, Jesus Cristo. Trata-se de uma presença inédita na história: Deus humaniza-se, vive e partilha a nossa condição humana. Jesus, que é verdadeiramente Deus, é também verdadeiramente homem (ser humano).

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Esta é a nossa fé — 16 — E para nossa salvação desceu dos céus



A afirmação da causalidade («E por nós, homens») completa-se com o motivo: «e para nossa salvação desceu dos Céus». Jesus vem para salvar, para nos reconciliar com Deus. É preciso dizer que «não faz sentido a ideia que Cristo arranca a nossa salvação a um Deus vingador e justiceiro que, desde a origem do tempo, esperava a reparação por todos os pecados acumulados pela humanidade: o Deus que tudo criou em seu Filho é o mesmo que nos acolhe e nos perdoa no seu mesmo Filho» (Rui Alberto, «Eu creio, Nós cremos. Encontros sobre os fundamentos da fé», ed. Salesianas, Porto 2012, 95).
Para ajudar a compreender melhor, ler:
-  Mateus 1, 18-25;
-  Catecismo da Igreja Católica, nn. 422 e 423, 456 a 460

«Darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» — esta indicação dada pelo anjo a José (cf. catequese 7) revela a identidade e a missão do menino: ser o «Salvador».

Esta é a nossa fé — 15 — E por nós, homens



Jesus Cristo, Filho de Deus, vem ao mundo, habita a nossa história, para nos dar a conhecer o próprio Deus. Jesus Cristo revela-nos um Deus que ama a sua Criação, que ama os seres criados, de modo particular o ser humano. Apesar das (nossas) infidelidades, Deus nunca volta as costas, mas sempre se dispõe a amar. O Pai, que ama infinitamente todos os seus filhos, envia ao mundo o Seu Filho, Jesus Cristo, «por nós homens» — como afirmamos no «Credo».
Para ajudar a compreender melhor, ler:
-  Primeira Carta de João 4, 7-11;
-  Catecismo da Igreja Católica, n. 385 a 421.

«O amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigênito, para que, por Ele, tenhamos a vida» — esta afirmação da Primeira Carta de João destaca (de novo) o tema do amor de Deus pelos seres humanos. É, na verdade, um tema muito presente nos escritos joaninos. O autor da Carta reforça toda a sua convicção a partir de uma afirmação central: «Deus é amor». A mais bela (e até talvez a única) definição de Deus que encontramos em toda a Escritura. Esta revelação de Deus não é uma mera afirmação especulativa. É uma experiência histórica concreta. O amor de Deus não é uma realidade para explicar. «Deus é amor» através do seu agir, que se descobre de modo evidente na vida do Seu Filho, Jesus Cristo. Ele vem ao mundo, «por nós homens», para nos dar a conhecer o amor. E para nos chamar a viver nesse mesmo amor.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Esta é a nossa fé — 14 — Por Ele todas as coisas foram feitas



      No início do Credo, proclamamos que Deus é Pai Criador (cf. catequeses 5 e 6). Agora, no centro do Credo, voltamos a referir o ato criador para o associar a Jesus Cristo: «Por Ele todas as coisas foram feitas». E, mais adiante, voltaremos a associá-lo com o Espírito Santo. Na verdade, «embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o Pai, o Filho e Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação» (Catecismo da Igreja Católica, 316).
      Agora, vamos aprofundar a relação de Jesus Cristo com o ato criador. Para ajudar a compreender melhor, leia:
      - Colossenses 1, 12-20;
        - Catecismo da Igreja Católica, números 290-294. 

«Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele»
      É uma aclamação que faz parte do hino recolhido ou adaptado por Paulo na Carta aos Colossenses. As afirmações deste hino fazem parte de um contexto cultural e filosófico em que se pensava que o céu e a terra estavam povoados por potências misteriosas. Por isso, sem qualquer dúvida, afirma que Jesus Cristo tem a primazia sobre todas as coisas.
     

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Esta é a nossa fé — 13 — Consubstancial ao Pai



O Catecismo da Igreja Católica, no número 242, resume assim este tema: «No primeiro concílio ecumênico de Nicéia, em 325 d.C., a Igreja confessou que o Filho é ‘consubstancial’ ao Pai, quer dizer, um só Deus com Ele. O segundo concílio ecumênico, reunido em Constantinopla em 381 d.C., guardou esta expressão na sua formulação do Credo de Nicéia e confessou ‘o Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, luz da luz. Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai’».
Para ajudar a compreender melhor, leia:
- João 14, 6-14;
- Catecismo da Igreja Católica, 234-242 e 249-256

«Quem me vê, vê o Pai»
Foi a resposta de Jesus, no evangelho de João, ao pedido do apóstolo Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai!». «O modo tipicamente cristão de considerar Deus passa sempre através de Cristo. É Ele o Caminho, e ninguém vai ao Pai senão por meio d’Ele. [...] Cristo, o Filho predileto, é por excelência o revelador do Pai. O verdadeiro rosto de Deus é-nos revelado só por Aquele que ‘está no seio do Pai’. A expressão original grega do Evangelho de João (cf. 1, 18) indica uma relação íntima e dinâmica de essência, de amor, de vida do Filho com o Pai» (João Paulo II, Audiência Geral de 20 de setembro de 2000). O diálogo entre Jesus e Filipe destaca a relação de profunda intimidade entre Jesus e o Pai: não se pode conhecer Um sem o Outro. Para o Papa Bento XVI, «estas palavras são as mais nobres do evangelho de João» (Audiência Geral de 6 de setembro de 2006). Mas não é fácil captar tudo que é dito. Os apóstolos também tiveram dificuldade em perceber esta essência de Deus revelado em Jesus Cristo. O mesmo sucedeu nos primeiros anos do cristianismo. Aliás, ainda hoje é preciso a abertura à fé para acolher a totalidade deste mistério divino.