Nesta catequese damos
continuidade à reflexão anterior (20: Também por nós foi crucificado sob Pôncio
Pilatos) para aprofundar os sofrimentos associados à morte de Jesus Cristo. A
expressão usada no «Credo» é «padeceu». Trata-se de uma palavra «que, no Credo,
resume toda a vida de Jesus: entre o seu nascimento e a sua morte, Ele sofreu» (Christophe Dufour, «Cinco pequenas catequeses sobre o Credo»,
Edições Salesianas, Porto 2012, 46). Podemos saber o que terá acontecido? «A fé
pode esforçar-se por investigar as circunstâncias da morte de Jesus» (Catecismo
da Igreja Católica, 573).
Para compreender
melhor, leia:
- Mc 14, 32 - 15, 41;
- Catecismo da Igreja Católica, números 571 a 623
«Pilatos depois de mandar
flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado»
Refere o evangelho segundo
Marcos sobre um dos momentos que antecedeu a crucificação de Jesus e que lhe
infligiu grande sofrimento. Além dos relatos evangélicos, existem testemunhos
históricos (por exemplo: Flávio Josefo e Tácito) que documentam o que sucedeu a
Jesus Cristo. É certo que, entre os romanos, a flagelação era uma das etapas da
condenação à morte na cruz. A cruz, como instrumento de suplício, é de origem
persa. Gregos, cartagineses e romanos aplicavam-na como pena capital aos
criminosos (cf. tema 20). Além da flagelação, os relatos indicam que Jesus foi
coroado de espinhos e ultrajado, antes de ser crucificado. «Os soldados de
Pilatos começaram realmente a intervir de maneira oficial quando o prefeito
lhes deu ordem para flagelarem Jesus. A flagelação, neste caso, não era um
castigo independente, nem mais um jogo dos soldados. Formava parte do ritual da
execução» (José Antonio Pagola, «Jesus. Uma aproximação histórica»).
Padeceu
O dicionário indica que o
verbo «padecer» tem os seguintes significados: (verbo transitivo) sofrer de
(mal físico ou espiritual); ser atormentado ou afligido por; suportar;
aguentar; consentir em; permitir que; (verbo intransitivo) ser ou estar doente;
sofrer dores físicas ou espirituais. O que terá vivido realmente Jesus Cristo
nestes momentos? Por certo que o sofrimento mais intenso terá sido durante a
permanência na cruz. De fato, a crucifixão produzia uma morte lenta e dolorosa
por asfixia. Mas «os seus sofrimentos começaram ainda antes de ser preso,
quando se encontrava sozinho a rezar, no Monte das Oliveiras. Segundo Lucas (o
único evangelista que narra este episódio), nesse momento, sofreu uma forte
crise emocional que lhe provocou o chamado «suor de sangue». […] Já há vários
dias que Jesus sabia que a sua situação era difícil e que as autoridades o
procuravam para o matar. Portanto, naquela noite, encontrava-se num estado
emocional crítico, que aumentava com o passar as horas, o que o levou a suar
sangue. Segundo os especialistas, o seu corpo fica muito debilitado e a pele
fica extremamente sensível, pelo que deve ser internado imediatamente. Jesus,
não só não foi internado, como foi ainda submetido a toda uma série de ultrages
infames. Por isso, a morte foi mais rápida do que o que era de esperar» (Ariel
Alvarez Valdés, «Enigmas da Bíblia. Novo Testamento», Difusora Bíblica,
Fátima 2005, 168). Depois seguiu-se a prisão. Os evangelhos (Mc, Mt, Lc)
descrevem várias humilhações que foram infligidas a Jesus, entre as quais
bofetadas e açoites. No dia seguinte, após o interrogatório judaico, Jesus foi
submetido ao tribunal romano e condenado à morte na cruz. Mas, como era costume
entre os romanos, antes de ser morto era flagelado. «O instrumento usado para
açoitar foi o ‘flagrum’, composto por um pequeno cabo de madeira, do qual saíam
duas ou três correias de couro com uns 50 cm de comprimento e em cujas pontas
havia umas pequenas bolas de chumbo que serviam para arrancar pedaços de carne
a cada chicotada, e assim lesionar mais ainda o corpo» (Ariel Alvarez Valdés,
169). A seguir, como se não bastasse os soldados colocaram-lhe uma coroa de
espinhos sobre a cabeça. «Aqueles espinhos voltaram a ser cravados, uma e outra
vez, por causa dos movimentos de cabeça que Jesus deve ter feito enquanto tentava
respirar pendurado na cruz. Portanto, o sofrimento de tal coroação acompanhou-o
até ao momento da sua morte» (Ariel Alvarez Valdés, 170).
A terminar é importante
referir que não são os sofrimentos (de Jesus) que nos salvam. O que nos salva é
o amor e a fidelidade com que Jesus viveu toda a sua vida, e também os
sofrimentos e a morte. Jesus salva-nos pelo testemunho de amor. «Só o amor é digno
de fé» (Hans Urs von Balthasar).
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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