O «Credo», como já dissemos
na catequese anterior (19: «e se fez homem»), passa da referência à encarnação
e nascimento para a condenação e morte de Jesus Cristo: «Também por nós foi
crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado». Neste tema,
refletimos sobre a primeira parte desta afirmação.
Para ajudar a compreender
melhor, leia:
- At 13, 26-29;
- Catecismo da Igreja Católica, números 595-623
«Exigiram a Pilatos que o
mandasse matar»
Proclama Paulo na catequese
descrita no capítulo treze do livro dos Atos dos Apóstolos. «A tradição cristã
elaborou respostas, a catequese forjou fórmulas: Jesus morto pelos nossos
pecados, o sacrifício que dá a vida. Com o risco de, por vezes, nos fazer
esquecer o choque que representavam para os primeiros discípulos o fracasso e a
condenação à morte do seu mestre. [...] A sentença e a execução foram romanas.
Mas a acusação política [...] parece mais uma montagem jurídica doutro
processo. [...] O verdadeiro conflito foi religioso [...]. Era preciso que a
questão fosse vital para Jesus e mortal para as autoridades religiosas para se
chegar a uma tal ruptura» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para
compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro, Porto 1993, 97-98).
Também por nós
A primeira afirmação desta
frase está em sintonia com duas catequeses anteriores: a causalidade humana
(cf. catequese 15: «E por nós, homens») e o motivo (cf. catequese 16: «e para
nossa salvação, desceu dos Céus»). Jesus vem ao mundo «por nós» e dá a sua vida
«também por nós». Entre um e outro «por nós» desenvolve-se a vida terrena de
Jesus Cristo. Ora, este reforço da causalidade humana, agora associada à
crucificação de Jesus produziu uma teologia que se esquematiza da seguinte
forma: criação à paraíso à pecado à culpa à castigo à perda do paraíso à sofrimento à eleição de um povo à encarnação à cruz à redenção pelo sangue à igreja à fé à batismo à salvação ou céu. Nesta sequência, o maior ênfase foi dado à relação
entre o pecado (humano) e a cruz (de Jesus Cristo). Daqui nasceu uma forte
acentuação do sentimento de culpa e do sofrimento. E pouco ou nada se disse
sobre a causa histórica da morte de Jesus. O aspecto doutrinal impôs-se sobre o
contexto histórico vivido por Jesus, nomeadamente através dos escritos
paulinos. [Sobre a temática da salvação pela cruz vamos continuar a refletir
nas próximas catequese]. Em contrapartida, através dos Evangelhos, podemos
reconhecer que a morte de Jesus é consequência da sua maneira de viver: Jesus
morreu assim porque viveu assim, isto é, foi fiel à sua missão. Isto não nega a
injustiça nem a crueldade do poder religioso (judaico) e do poder civil
(romano). A maneira de viver de Jesus — purificar a religião de normas
desumanas, acolher os pecadores, denunciar as injustiças, preferir os mais
pobres — provocou a ira do poder religioso que fez tudo para obter a condenação
e a morte de Jesus Cristo. Habilmente, transformaram uma acusação religiosa
numa acusação política (cf. Lc 23, 5; Jo 19, 12). Assim, Jesus «foi crucificado
sob Pôncio Pilatos».
Foi crucificado
A prática da crucificação é
de origem persa. Foi usada, em primeiro lugar, pelos «bárbaros», como castigo
político e militar. Foi adotada também pelos gregos e, mais tarde, pelos
romanos. Estes introduzem a flagelação, antes de colocarem sobre os ombros do
condenado o madeiro transversal da cruz. Era assim conduzido ao lugar do
suplício. O condenado, quase nu, podia ser colocado com a cabeça para cima ou para
baixo. Parece ter sido uma prática comum dos romanos contra os judeus. Além de
uma morte lenta, o crucificado normalmente ficava abandonado na cruz, sem ter
direito a sepultura. A cruz era um «sinal de vergonha», «o suplício mais cruel
e mais repugnante» (cf. B. Sesboüé, «Creer. Invitación a la fe católica para
las mujeres y los hombres del siglo XXI». Ed. San Pablo, Madrid 2000,
312-314).
Sob Pôncio Pilatos
Apenas três seres humanos
são nomeados no Credo: Jesus Cristo, Maria... e Pôncio Pilatos. Porquê? Há
certamente uma preocupação em situar historicamente o acontecimento da
condenação de Jesus à morte na cruz. «Pronunciar este ‘nome histórico’ no
Símbolo da fé é já um modo de dizer que a fé cristã crê em fatos. Professa como
verdadeiro e digno de confiança, até fazer com que se torne critério decisivo
de escolha e de vida, um fato real, o da paixão e da morte de Jesus, na cruz»
(Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior Velho 2005,
62).
A morte na cruz, que parece
proclamar o triunfo do ódio (humano), torna-se, em Jesus Cristo, na maior prova
de amor de Deus pela humanidade.
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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