A temática que estamos
refletindo — crucificação e morte de Jesus Cristo — termina com uma expressão
forte: «e foi sepultado». Com esta afirmação fica de lado qualquer suspeita
sobre a morte de Jesus Cristo. Além disso, «a permanência do corpo de Cristo no
túmulo constitui o laço real entre o estado passível de Cristo antes da Páscoa
e o seu estado glorioso atual de ressuscitado» (CIC,
625).
Para ajudar a compreender
melhor, leia:
- Lc 23, 50-56;
- Catecismo da Igreja Católica,
números 624 a 630.
«Descendo-o da cruz,
envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro»
É assim que o evangelho
segundo Lucas descreve a ação de José de Arimateia, um «homem reto e justo
[...] que esperava o Reino de Deus». De acordo com os procedimentos romanos
(cf. catequese 20), o crucificado ficava abandonado na cruz sem ter direito a
sepultura. «Enquanto os romanos abandonavam os corpos dos justiçados na cruz
aos abutres, os judeus faziam questão de que eles fossem sepultados; havia
lugares atribuídos pela autoridade judiciária para isso mesmo. Neste sentido, o
pedido de José enquadra-se nos costumes judiciários judaicos. [...] Sobre a
própria deposição, os evangelistas transmitem-nos uma série de informações
importantes. Antes de mais sublinha-se que José foi depositar o corpo do Senhor
num sepulcro novo, de sua propriedade, no qual ainda ninguém fora sepultado
(cf. Mt 27, 60; Lc 23, 53; Jo 19, 41). Nisto se dá prova de um respeito
profundo por este defunto. Assim como no ‘Domingo de Ramos’ Ele se serviu de um
jumentinho que ainda ninguém montara (cf. Mc 11, 2), assim também agora é
depositado num sepulcro novo» (Bento XVI, «Jesus de
Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição»)
E foi sepultado
A sepultura de Jesus Cristo,
narrada por todos os evangelistas, remete-nos, em primeiro lugar, para o
mistério da Encarnação. Jesus Cristo assumiu totalmente a nossa condição humana
(exceto o pecado). Por isso, fez também a experiência da morte. «A morte de
Cristo foi uma verdadeira morte, na medida em que pôs fim à sua existência
humana terrena» (Catecismo da Igreja Católica, 627). A profissão da nossa fé
atesta-o, no «Credo niceno-constantinopolitano», ao sublinhar que depois de ter
sido crucificado e ter padecido, Jesus Cristo «foi sepultado». Esta afirmação,
como recorda João Paulo II, é a «confirmação de que a sua morte foi real e não
aparente. [...] Jazia no sepulcro em estado de cadáver [...], no estado e
condição de todos os seres humanos» (Audiência Geral de 11 de
janeiro de 1989). Por outro lado, a sepultura de Jesus Cristo também nos remete para o
mistério da Redenção ou Salvação. Só assumindo a totalidade da nossa natureza
humana é que Jesus Cristo poderia redimir e salvar o ser humano. De fato, esta
expressão — «e foi sepultado» — que à primeira vista pode parecer uma simples
anotação cronológica é um dado «cujo significado se insere no horizonte mais
amplo de toda a Cristologia. Jesus Cristo é o Verbo que se fez carne para
assumir a condição humana e tornar-se semelhante a nós em tudo, exceto no
pecado (cf. Hb 4, 15). Tornou-se verdadeiramente ‘um de nós’ (cf. Constituição Dogmática sobre a Igreja no mundo atual
«Gaudium et Spes», 22), para poder realizar a nossa redenção, graças à profunda
solidariedade estabelecida com cada membro da família humana. Nessa condição de
homem verdadeiro, sofreu inteiramente a condição do ser humano, até à morte, à
qual se segue, habitualmente, a sepultura, pelo menos no mundo cultural e
religioso em que esteve inserido e viveu. A sepultura de Cristo é, pois, objeto
da nossa fé enquanto nos propõe de novo o mistério do Filho de Deus que se fez
homem e foi até ao extremo da existência humana» (João Paulo II, Audiência Geral
de 11 de janeiro de 1989).
Jesus Cristo estabeleceu
uma articulação perfeita entre a salvação, a vontade de Deus e o bem do ser
humano. Nisto consiste a nossa salvação. Ao introduzir a sepultura de Jesus
Cristo no contexto da História da Salvação estamos a proclamar que a morte não
teve nem tem a última palavra. De fato, o silêncio de Deus quando da morte de
Jesus Cristo é unicamente uma parte do mistério de Sábado Santo.
Agora, abre-se a porta para
a «última» palavra de Deus: Jesus Cristo, que «foi crucificado sob Pôncio
Pilatos; padeceu e foi sepultado», é o mesmo que «ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as Escrituras». Ele «é a mesma pessoa do ‘Vivente’ que pode dizer:
‘Estive morto e eis-me vivo pelos séculos dos séculos’ (Ap 1, 18)» (CIC, 625).
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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