A segunda parte do
(segundo) artigo do «Credo» sobre Jesus Cristo termina com a afirmação: «e
se fez homem». Em Jesus Cristo, Deus humaniza-se e vive a condição humana
na sua totalidade, exceto no pecado. Jesus Cristo leva à plenitude a nossa
humanidade. É modelo para todo o ser humano que deseja alcançar a plena
realização pessoal. Nesta simples afirmação — «e se fez homem» — está
condensada toda a vida (privada e pública) de Jesus Cristo.
Para ajudar a compreender
melhor, ler:
- Lucas 2, 39-52;
- Catecismo da Igreja Católica,
nn. 512 a 570
«Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça,
diante de Deus e dos homens» — assim resume o evangelho segundo Lucas a vida de Jesus entre os doze
e os trinta anos de idade. Para perceber o que é relatado pelo evangelista, é preciso
ter em conta que, na mesma casa, viviam os avós, os pais, os filhos, os tios,
os primos, todos os que constituíam o mesmo núcleo familiar. É este grande clã
familiar que se desloca a Jerusalém. Assim, já não é tão estranho que Jesus
tenha ficado no Templo, «sem que os pais o soubessem». Seria possível
apenas Maria e José perderem Jesus?! Este relato é muito rico em ensinamentos
teológicos. Trata-se de um episódio que nos ajuda a perceber que Jesus começa a
assumir a sua própria perspetiva de vida. O início da vida adulta acontecia aos
doze anos. A maioria dos rapazes e moças casavam por volta dessa idade, num
tempo em que aos quarenta anos já se era «velho». Ao colocá-lo «no meio dos
doutores», o evangelista prepara-nos para o que vai ser a vida de Jesus: a
fidelidade à sua missão.
Os primeiros anos de vida
relatados nos evangelhos canônicos estão reduzidos à narração dos episódios
referentes ao anúncio e nascimento de Jesus acrescidos de três acontecimentos:
a fuga para o Egito (evangelho segundo Mateus) e duas situações — a
«apresentação» e, mais tarde, a «perda» aos doze anos (evangelho segundo Lucas)
— no Templo de Jerusalém. Estas duas últimas narrações terminam com um resumo
que define a autenticidade da natureza humana da criança (Lc 2, 40.52):
«Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a
graça de Deus estava com Ele. [...] Jesus crescia em sabedoria, em estatura e
em graça, diante de Deus e dos homens».
E se fez homem
Jesus esteve com os seus
pais, Maria e José, em Nazaré, até ao início da sua pregação, chamada «vida
pública». Durante esse tempo, viveu de forma humildade e discreta, de tal modo
que não existe qualquer dado bíblico sobre essa etapa da sua vida (privada).
Jesus permanece em Nazaré aproximadamente até aos trinta anos de idade. A
partir daí, começa a sua intensa pregação e ação. Uma atividade que vai levar à
condenação à morte. Após a Páscoa de Jesus Cristo, a Ressurreição, ficaremos a
saber que não se trata de um fracasso, mas de uma vitória do amor, consequência
da fidelidade à sua missão: dar a conhecer o amor de Deus. No entanto — ao
contrário dos relatos dos evangelhos que são extensos e detalhados —, o «Credo»
nada diz sobre a forma como Jesus viveu nem sobre o que disse e fez até à
crucificação. No «Credo» apenas recordamos os mistérios da Páscoa e do Natal. «Relativamente
à vida de Cristo, o Símbolo da Fé apenas fala dos mistérios da Encarnação
(concepção e nascimento) e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte, sepultura,
descida à mansão dos mortos, ressurreição, ascensão). Nada diz explicitamente
dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas os artigos que dizem
respeito à Encarnação e à Páscoa de Jesus esclarecem toda a vida terrena de
Cristo. ‘Tudo o que Jesus fez e ensinou desde o princípio até ao dia em
que foi elevado ao céu’ (Atos dos Apóstolos 1, 1-2) deve ser visto à luz dos
mistérios do Natal e da Páscoa» (Catecismo da Igreja Católica [CIC], 512).
O Catecismo da Igreja
Católica resume em quatro aspetos a vida (pública) de Jesus:
- toda a vida de Cristo é revelação do Pai (CIC 516);
- toda a vida de Cristo é mistério de redenção (CIC 517);
- toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação (CIC 518);
- toda a vida de Cristo é modelo de perfeição (CIC 519-521).
Talvez uma (próxima)
revisão do texto do «Credo» possa incluir uma referência à vida de Jesus!
«Toda a vida de Cristo foi um ensinar contínuo: os
seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a sua oração, o seu amor pelo
humano, a sua predileção pelos pequeninos e pelos pobres, a aceitação do
sacrifício total na cruz pela redenção do mundo e a sua ressurreição, são a
atuação da sua palavra e o cumprimento da sua revelação» (João Paulo II, Exortação
Apostólica Catequese Tradendae, 9).
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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