A
afirmação da causalidade («E por nós, homens») completa-se com o motivo:
«e para nossa salvação desceu dos Céus». Jesus vem para salvar, para nos
reconciliar com Deus. É preciso dizer que «não faz sentido a ideia que
Cristo arranca a nossa salvação a um Deus vingador e justiceiro que, desde a
origem do tempo, esperava a reparação por todos os pecados acumulados pela
humanidade: o Deus que tudo criou em seu Filho é o mesmo que nos acolhe e nos
perdoa no seu mesmo Filho» (Rui Alberto, «Eu creio, Nós cremos. Encontros
sobre os fundamentos da fé», ed. Salesianas, Porto 2012, 95).
Para
ajudar a compreender melhor, ler:
- Mateus
1, 18-25;
- Catecismo
da Igreja Católica, nn. 422 e 423, 456 a 460
«Darás o nome de Jesus, porque
Ele salvará o povo dos seus pecados» —
esta indicação dada pelo anjo a José (cf. catequese 7) revela a identidade
e a missão do menino: ser o «Salvador».
E para nossa salvação.
Anuncia-se
uma «boa notícia»! Jesus Cristo vem ao mundo para nos salvar. Deus quer o nosso
bem, quer que sejamos felizes. A presença de Jesus Cristo no meio de nós é um
sinal do amor de Deus. O que acontece agora é uma revelação, um gesto visível
da salvação que Deus oferece a todos. Aliás, toda a história é um desenrolar da
salvação. Não é por acaso que a designamos como «História da Salvação». Ao
afirmar que Jesus Cristo é o Salvador, tornamos presente toda a História.
Recordamos «a pedagogia de Deus que, ao longo de toda a história de Israel,
renova o seu oferecimento de aliança, a fim de acostumar os seres humanos a
viverem da sua vida. [...] Ao tomar nos seus braços o filho de Maria, o velho
Simeão tem realmente consciência de tocar, finalmente, a promessa feita a
Israel e a salvação do mundo inteiro: ‘Os meus olhos virão a tua salvação’
(Lucas 2, 30)» (Ph.
Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro,
Porto 1993, 79). É isto mesmo que a Igreja diz, na celebração da Eucaristia,
quando se reza a Oração Eucarística IV: «Repetidas vezes fizestes aliança
com os homens e pelos profetas os formastes na esperança da salvação. De tal
modo amastes o mundo, Pai santo, que chegada a plenitude dos tempos, nos
enviastes como Salvador o vosso Filho Unigênito». Em Jesus Cristo, a
Criação atinge a plenitude. Podemos dizer que Aquele «por quem todas as
coisas foram feitas» é o mesmo que leva à plenitude todas as coisas,
tornando «presente» a salvação. Por isso, é um erro pensar que a salvação é um
ato restaurador de algo perdido. Não é um regresso ao passado. Ela dá-nos algo
que não existia: «Adão não comungava na vida de Deus como nós somos
convidados a fazê-lo em Jesus Cristo. [...] A salvação é real participação na
vida que Deus propõe e que não é outra coisa que a participação na vida
trinitária: aderir fortemente a Jesus para se deixar amar pelo Pai na
iluminação do Espírito Santo» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray,
82). Então, na sequência do que referimos no início desta reflexão, podemos
agora dizer que ser salvo é muito mais do que deixar de ser pecador. É ter
acesso a um dom de Deus, que a fé nos diz que é suficientemente forte para
acabar com as nossas fugas e as nossas recusas: «é o que chamamos a graça de
Deus, isto é, o fascínio da sua gratuidade que transforma a nossa vida» (Ph.
Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, 82). O Filho de Deus «desceu dos Céus
[...] e se fez homem», para que os homens se tornem filhos de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 460).
Por isso, todas as tentativas para explicar a salvação (justificação, resgate,
redenção, satisfação, libertação, reconciliação) são sempre imperfeitas; são
isto mesmo «tentativas» para exprimir um dom de Deus. Ele anula todas as
distâncias, mesmo aquelas que são fruto da nossa recusa em amar.
Desceu dos céus.
É
Deus que toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, por amor. Com a expressão
«desceu dos céus» queremos afirmar que Jesus tem uma origem divina. Na
linguagem bíblica, os «céus» não são a abóboda celeste. Os «céus» designam a
vida de Deus e a vida em Deus. Jesus «desceu dos Céus» porque vive em Deus, é
Deus. Além disso, «descer dos céus» ou «vir de Deus» não significa um lugar.
Não se trata de uma viagem que Jesus fez de um lugar (céus) para outro (terra).
É uma afirmação possível na nossa linguagem do grande mistério que torna real a
Encarnação: Deus humaniza-se, assume a natureza humana.
Jesus
Cristo, o Filho Unigênito de Deus, que vive desde sempre com o Pai, vem habitar
a nossa história, assume a nossa humanidade. E assim continuaremos nos próximos
temas: «E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez
homem».
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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