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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Esta é a nossa fé — 16 — E para nossa salvação desceu dos céus



A afirmação da causalidade («E por nós, homens») completa-se com o motivo: «e para nossa salvação desceu dos Céus». Jesus vem para salvar, para nos reconciliar com Deus. É preciso dizer que «não faz sentido a ideia que Cristo arranca a nossa salvação a um Deus vingador e justiceiro que, desde a origem do tempo, esperava a reparação por todos os pecados acumulados pela humanidade: o Deus que tudo criou em seu Filho é o mesmo que nos acolhe e nos perdoa no seu mesmo Filho» (Rui Alberto, «Eu creio, Nós cremos. Encontros sobre os fundamentos da fé», ed. Salesianas, Porto 2012, 95).
Para ajudar a compreender melhor, ler:
-  Mateus 1, 18-25;
-  Catecismo da Igreja Católica, nn. 422 e 423, 456 a 460

«Darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» — esta indicação dada pelo anjo a José (cf. catequese 7) revela a identidade e a missão do menino: ser o «Salvador».

E para nossa salvação.
Anuncia-se uma «boa notícia»! Jesus Cristo vem ao mundo para nos salvar. Deus quer o nosso bem, quer que sejamos felizes. A presença de Jesus Cristo no meio de nós é um sinal do amor de Deus. O que acontece agora é uma revelação, um gesto visível da salvação que Deus oferece a todos. Aliás, toda a história é um desenrolar da salvação. Não é por acaso que a designamos como «História da Salvação». Ao afirmar que Jesus Cristo é o Salvador, tornamos presente toda a História. Recordamos «a pedagogia de Deus que, ao longo de toda a história de Israel, renova o seu oferecimento de aliança, a fim de acostumar os seres humanos a viverem da sua vida. [...] Ao tomar nos seus braços o filho de Maria, o velho Simeão tem realmente consciência de tocar, finalmente, a promessa feita a Israel e a salvação do mundo inteiro: ‘Os meus olhos virão a tua salvação’ (Lucas 2, 30(Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro, Porto 1993, 79). É isto mesmo que a Igreja diz, na celebração da Eucaristia, quando se reza a Oração Eucarística IV: «Repetidas vezes fizestes aliança com os homens e pelos profetas os formastes na esperança da salvação. De tal modo amastes o mundo, Pai santo, que chegada a plenitude dos tempos, nos enviastes como Salvador o vosso Filho Unigênito». Em Jesus Cristo, a Criação atinge a plenitude. Podemos dizer que Aquele «por quem todas as coisas foram feitas» é o mesmo que leva à plenitude todas as coisas, tornando «presente» a salvação. Por isso, é um erro pensar que a salvação é um ato restaurador de algo perdido. Não é um regresso ao passado. Ela dá-nos algo que não existia: «Adão não comungava na vida de Deus como nós somos convidados a fazê-lo em Jesus Cristo. [...] A salvação é real participação na vida que Deus propõe e que não é outra coisa que a participação na vida trinitária: aderir fortemente a Jesus para se deixar amar pelo Pai na iluminação do Espírito Santo» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, 82). Então, na sequência do que referimos no início desta reflexão, podemos agora dizer que ser salvo é muito mais do que deixar de ser pecador. É ter acesso a um dom de Deus, que a fé nos diz que é suficientemente forte para acabar com as nossas fugas e as nossas recusas: «é o que chamamos a graça de Deus, isto é, o fascínio da sua gratuidade que transforma a nossa vida» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, 82). O Filho de Deus «desceu dos Céus [...] e se fez homem», para que os homens se tornem filhos de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 460). Por isso, todas as tentativas para explicar a salvação (justificação, resgate, redenção, satisfação, libertação, reconciliação) são sempre imperfeitas; são isto mesmo «tentativas» para exprimir um dom de Deus. Ele anula todas as distâncias, mesmo aquelas que são fruto da nossa recusa em amar.

Desceu dos céus.
É Deus que toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, por amor. Com a expressão «desceu dos céus» queremos afirmar que Jesus tem uma origem divina. Na linguagem bíblica, os «céus» não são a abóboda celeste. Os «céus» designam a vida de Deus e a vida em Deus. Jesus «desceu dos Céus» porque vive em Deus, é Deus. Além disso, «descer dos céus» ou «vir de Deus» não significa um lugar. Não se trata de uma viagem que Jesus fez de um lugar (céus) para outro (terra). É uma afirmação possível na nossa linguagem do grande mistério que torna real a Encarnação: Deus humaniza-se, assume a natureza humana.
Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, que vive desde sempre com o Pai, vem habitar a nossa história, assume a nossa humanidade. E assim continuaremos nos próximos temas: «E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem».

(adaptado do www.laboratoriodafe.net)

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