No «Credo»
niceno-constantinopolitano, o artigo dedicado a Jesus Cristo termina com a
afirmação da vitória final: «e o seu reino não terá fim». Qual é o reino de
Jesus Cristo? Quando é que começa? Este tema será de novo aprofundado quando
nos referirmos, no final do «Credo», à esperança na ressurreição e na vida «do
mundo que há de vir» (Catequeses 40 e 41).
Para compreender melhor,
leia:
- 1 Cor 15, 20-28;
- Catecismo da Igreja
Católica, números 668-682.
«É necessário que Ele reine
até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés»
Afirma Paulo na Primeira
Carta aos Coríntios, ao refletir sobre a vitória obtida com a ressurreição de
Jesus Cristo. A seguir acrescenta: «O último inimigo a ser destruído será a
morte». Paulo mostra-nos que a vitória definitiva de Jesus Cristo acontece com
a vitória sobre a morte. Ora, isso já aconteceu, pois a ressurreição é a
manifestação dessa vitória. No entanto, ainda não está totalmente concluída,
uma vez que o pecado e a morte continuam presentes nesta nossa existência
terrena. De fato, todos podemos constatar que Jesus Cristo «não eliminou a
morte biológica: o organismo do ser humano, como o de qualquer ser vivo,
corrompe-se e acaba por sucumbir. Porque é que dizemos então que Ele venceu a
morte? Ele venceu-a porque a privou do seu sentido de destruição total do ser
humano e transformou-a no nascimento duma vida plena e definitiva. Ele foi o
primeiro a percorrer esse caminho e com Ele chegam à vida de Deus todos os que
morrem com Ele» (Fernando Armellini, «O banquete da Palavra. Ano A», Paulinas,
Lisboa 1995, 415). Em Jesus Cristo a história já atingiu a plenitude, mas ainda
não se consumou o final dos tempos. Aí, será instaurado definitivamente o
Reino, para que «Deus seja tudo em todos».
E o seu reino não terá fim
O tema do Reino acompanha
toda a vida de Jesus Cristo. «Desde o anúncio do seu nascimento, o Filho
unigênito do Pai, que nasceu da Virgem Maria, é definido ‘rei’ no sentido
messiânico, ou seja, herdeiro do trono de Davi, segundo as promessas dos profetas,
para um reino que não terá fim (cf. Lc 1,32-33). A realeza de Cristo permaneceu
totalmente escondida, até aos seus trinta anos, transcorridos numa existência
comum em Nazaré. Depois, durante a vida pública, Jesus inaugurou o novo Reino,
que ‘não é deste mundo’ (Jo 18,36) e no final realizou-o plenamente com a sua
morte e ressurreição. Ao aparecer ressuscitado aos Apóstolos, disse: ‘Toda a
autoridade me foi dada no céu e sobre a terra’ (Mt 28,18): esta autoridade
brota do amor, que Deus manifestou plenamente no sacrifício do seu Filho. O
Reino de Cristo é dom oferecido aos homens de todos os tempos, para que todo
aquele que acredita no Verbo encarnado ‘não morra, mas tenha a vida eterna’ (Jo
3,16). Por isso, precisamente no último Livro da Bíblia, o Apocalipse, Ele
proclama: ‘Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim’ (Ap 22,13)» (Bento
XVI, «Angelus» de 20 de novembro de 2005).
Esta reflexão pode ser complementada
pela releitura das Catequeses 14 e 23: «Por Ele todas as coisas foram feitas»
e «Ressuscitou ao terceiro dia».
O Concílio do Vaticano II, na Constituição
Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje («Gaudium et Spes») esclarece:
«Ignoramos o tempo em que a terra e a humanidade atingirão a sua plenitude, e
também não sabemos que transformação sofrerá o universo. [...] Deus ensina-nos
que se prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reina a justiça e
cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam no
coração dos seres humanos. [...] Sobre a terra, o reino já está misteriosamente
presente; quando o Senhor vier, atingirá a perfeição» (n. 39). Na verdade,
do início até ao fim, o Reino está intimamente ligado a Jesus Cristo. «Onde
Jesus Cristo chegava, chegava o Reino. Onde Jesus Cristo estava, o Reino de Deus
mostrava-se. Quando as pessoas tocavam em Jesus, estavam a tocar no Reino,
quando o viam estavam a vê-lo. Quando escutavam as parábolas, estavam a escutar
a gramática insuspeita do Reino. [...] Este é o grande anúncio de Jesus: ‘O
Reino Deus está no meio de vós’! Está dentro de nós, no meio do mundo, no
interior da História como semente... É este o maravilhoso tesouro a descobrir.
Deus já está presente! [...] Hoje a minha vida está envolvida pelo Reino de
Deus» (José Tolentino Mendonça, «Pai nosso que estais na Terra», Paulinas,
Prior Velho 2011, 81.83).
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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