A profissão de fé na
Ascensão de Jesus Cristo («subiu aos Céus») tem um complemento que acrescenta:
«onde está sentado à direita do Pai». Qual é o sentido desta afirmação? Há um
simbolismo relacionado com esta terminologia sobre o qual vamos refletir.
Para compreender melhor,
leia:
- Salmo 110 (109);
- Catecismo da Igreja
Católica, números 659 a 667.
«Disse o Senhor ao meu senhor: ‘Senta-te à minha direita’»
Os exegetas (estudiosos da Bíblia) sugerem que se trata de um texto sobre a realeza. Neste
sentido, a expressão «ao meu senhor» refere-se ao rei (cf. Bíblia Sagrada,
Introdução ao Salmo 110, Difusora Bíblica, 957). Contudo, em vários textos do
Novo Testamento, inclusive nos evangelhos, esta expressão é usada para se
referir a Jesus Cristo. Por exemplo, nos Atos dos Apóstolos, Pedro serve-se
deste salmo para anunciar a ressurreição de Jesus Cristo: «David não subiu ao
Céu, mas ele próprio diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha
direita [...]. Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus
estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado» (2, 34-36).
No mesmo sentido podemos entender a afirmação no final do evangelho segundo
Marcos: «O Senhor Jesus [...] foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus»
(16, 19). Esta relação com Jesus Cristo é também confirmada pelo próprio, quando do julgamento no tribunal judaico. Trata-se de uma referência comum aos
três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). O próprio Jesus Cristo
responde: «O Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus» (Lucas 22, 69).
«Utilizando o Salmo 110, Jesus anuncia o começo do Reinado messiânico que, a
partir da sua Páscoa, será reconhecido pela Igreja» (Bíblia Sagrada, Nota ao
texto de Lucas, Difusora Bíblica, 1721).
Onde está sentado à direita
do Pai
A expressão «está sentado»
remete para uma situação solene e triunfal. A expressão «à direita» remete para
uma situação hierárquica, isto é, trata-se de alguém «importante». Nas relações
humanas, ainda hoje faz parte do protocolo dar um destaque especial à pessoa
que é convidada a sentar-se à direita. Atribuir esta situação a Jesus Cristo é
proclamar a sua honra. Mas é claro que se trata apenas de uma linguagem
simbólica. Ao dizê-lo em relação a Jesus Cristo, não afirmamos uma postura
corporal. Trata-se de evidenciar o estatuto especial de Jesus Cristo. Na Carta
aos Efésios, Paulo põe em destaque a plenitude do Universo atribuída a Jesus
Cristo pelo Pai: «ressuscitou-o dos mortos e sentou-o à sua direita, no alto do
Céu, muito acima de todo o Poder, Principado, Autoridade, Potestade e Dominação
e de qualquer outro nome que seja nomeado, não só neste mundo, mas também no
que há de vir» (Ef 1, 20-23). Na limitação da nossa linguagem para falar
de Deus, esta é uma imagem visual simbólica que só tem sentido se ajudar a
perceber melhor a presença de Jesus Cristo em Deus. O Catecismo da Igreja
Católica [CIC] sublinha esta afirmação atribuindo-lhe duas características: a
honra de Jesus Cristo (CIC 663) e a inauguração do Reino de Deus (CIC 664).
«Com isto não se alude a um espaço cósmico distante, onde Deus tenha, por assim
dizer, erigido o seu trono e, nele, dado um lugar também a Jesus. Deus não se
encontra num espaço ao lado de outros espaços. Deus é Deus — Ele é o
pressuposto e o fundamento de todo o espaço existente, mas não faz parte dele.
A relação de Deus com todos os espaços é a de Senhor e Criador. A sua presença
não é espacial, mas, precisamente, divina. ‘Sentar-se à direita de Deus’
significa participar na soberania própria de Deus sobre todo o espaço. [...]
Ele entra na comunhão de vida e de poder com o Deus vivo, na situação de
superioridade de Deus sobre todo o espaço. [...] Uma vez que está junto do Pai,
Jesus não está longe, mas sim perto de nós. Agora já não se encontra num lugar
concreto do mundo, como antes da ‘ascensão’; no seu poder, que supera todo e
qualquer espaço, está presente junto de todos, podendo ser invocado por todos,
através de toda a história e em todos os lugares» (Bento XVI, «Jesus de Nazaré.
Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, 229-230).
«A Ascensão leva-nos a
conhecer esta realidade tão consoladora para o nosso caminho: em Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a nossa humanidade foi levada para junto de
Deus; Ele abriu-nos a passagem; Ele é como um chefe de grupo, quando se escala
uma montanha, que chega ao cimo e nos puxa para junto de si, conduzindo-nos
para Deus» (Francisco, Audiência Geral, 17 de abril de 2013).
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
Nenhum comentário:
Postar um comentário