Há uma mudança nos tempos
verbais! Até agora o conteúdo do «Credo» situou-se no passado e no presente da
História da Salvação. Agora, aponta para o tempo futuro: uma realidade marcada
pela vinda gloriosa de Jesus Cristo.
Para compreender melhor,
leia:
- Jo 14, 1-6;
- Catecismo da Igreja
Católica, n. 668-677.
«Virei novamente e hei de
levar-vos para junto de mim»
Diz Jesus Cristo aos
discípulos, no contexto do longo discurso de despedida relatado no evangelho
de João. À proximidade com os seus discípulos, lavando-lhes os pés e
insistindo o mandamento do amor, mistura-se a tensão do anúncio das negações
de Pedro e da traição de Judas (cf. Jo 13). Agora, Jesus percebe que o
rosto e o coração dos discípulos estão perturbados. Por isso, anima-os a ter
fé, a ter confiança nele e no Pai. Tranquiliza os seus amigos. Apesar de todas
as contrariedades e situações difíceis, explica-lhes que a esperança humana
será levada à plenitude. Porque, no coração de Deus, há lugar para todos os
seus filhos. A exortação à confiança está também associada à «partida» de Jesus
Cristo para a «casa» do Pai onde preparará um «lugar» para os seus amigos. Mas
não devem ficar tristes, pois não se trata de um abandono definitivo; ele
voltará: «virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim». Os discípulos
não compreendem. Em nome de todos, Tomé assume essa incompreensão. Ainda não entenderam qual é a meta nem o caminho para lá chegar: «Não sabemos para onde
vais, como podemos saber o caminho?». A resposta está no próprio Jesus
Cristo. Ele é o caminho. «Jesus esclarece os discípulos de que a sua partida é
abrir caminho para a casa do Pai, a meta final para todos» (Bíblia Sagrada,
Nota ao texto de João 14,2-3, Difusora Bíblica, 1758).
De novo há de vir em sua
glória
«A fé no regresso de Cristo
é o segundo pilar da profissão de fé cristã. Ele, que se fez carne e agora
permanece homem para sempre, que para sempre inaugurou em Deus a esfera do ser
humano, chama todo o mundo a entrar nos braços abertos de Deus» (Bento XVI,
«Jesus de Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição», 232).
As primeiras comunidades cristãs sempre assumiram esta esperança pela vinda
gloriosa de Jesus Cristo, como o comprova, entre outros, o final do livro do
Apocalipse (que também encerra a Bíblia): «‘Eis que Eu venho em breve. Feliz o
que puser em prática as palavras da profecia deste livro. [...] Sim. Virei
brevemente’. — Amém! Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22,7.20). Este texto reflete a
expressão aramaica «Marana thá» («Vinde, Senhor») — ou «Maran atha» («O Senhor
veio») — usada pelos primeiros cristãos. Conforme escreve Bento XVI,
«sabemos, pela ‘Didaque’ (do ano 100 aproximadamente), que este brado fazia parte das
orações litúrgicas da Celebração Eucarística dos primeiros cristãos, aparecendo
aqui concretamente também a unidade dos dois modos de leitura: os cristãos
invocam a vinda definitiva de Jesus e ao mesmo tempo vêem, com alegria e
gratidão, que Ele antecipa já agora a sua vinda, dá entrada já agora no nosso meio»
(Bento XVI, «Jesus de Nazaré. Parte II...», 233). Na verdade, esta esperança
pela vinda de Jesus Cristo ainda hoje se mantém no ritual da Eucaristia, quando
após o Pai nosso o presidente reza: «enquanto esperamos a vinda gloriosa de
Jesus Cristo nosso Salvador». E, antes, na aclamação anamnética, a assembleia
proclama: «Vinde, Senhor Jesus!» ou «esperando a vossa vinda gloriosa». Ao
professarmos a nossa fé na vinda de Jesus Cristo manifestamos a nossa convicção
de que a história tem uma meta, um sentido que se revelará pleno, no final dos
tempos. Esta dimensão da esperança cristã está bem patente no tempo litúrgico
do Advento (período que antecede o Natal). Nele, celebramos a preparação para a
vinda histórica de Jesus Cristo e a esperança da sua vinda no final dos tempos,
quando entrarmos definitivamente na vida em Deus. Mas não só: há uma outra
vinda. «O tempo do Advento é celebrar e abrir-se à vinda constante de Deus, de
Jesus, às nossas vidas e à vida da humanidade. Porque Deus vem agora» (Josep
Ligadas, «Advento: o Senhor vem», Paulinas, Prior Velho 2003, 10). Na verdade,
é preciso ter claro que o fato de nos referirmos a uma nova vinda não
significa que Jesus Cristo se encontra ausente do tempo presente. O próprio
Jesus Cristo prometeu estar sempre conosco (cf. Mt 28,20).
A esperança pela vinda
gloriosa de Cristo provoca a alegria de um dia entrarmos na plenitude da vida
em Deus. Mas é também um apelo à nossa responsabilidade: Jesus virá «para
julgar».
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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