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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Eco da Palavra - Solenidade de Cristo Rei do Universo ( 20/11/2011) - Mt 25, 31-46

Celebramos neste domingo, o último do Tempo Comum e também o último do Ano Litúrgico, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É uma das mais jovens solenidades do nosso calendário litúrgico. Ela foi instituída, num ato profético de grande coragem pastoral, pelo Papa Pio XI, com a Encíclica “Quas Primas”, de 11 de Dezembro de 1925, a primeira do seu pontificado (1922-1939).

Escolha de Oração: X – Deus presente no momento de angústia – Bento XVI – Catequese do dia 14/09/2011

Na catequese de hoje, eu gostaria de falar sobre um salmo de fortes implicações cristológicas, que continuamente aflora nos relatos da paixão de Jesus, com sua dupla dimensão de humilhação e de glória, de morte e de vida. É o salmo 22, segundo a tradição judaica, 21 segundo a tradição greco-latina, uma oração sincera e comovente, de uma densidade humana e uma riqueza teológica que o convertem em um dos salmos mais rezados e estudados de todo o Saltério. Trata-se de uma longa composição poética (nós nos deteremos em particular na primeira parte), concentrada no lamento, para aprofundar em algumas dimensões significativas da oração de súplica a Deus.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Escola de Oração: IX – Deus sempre está perto – Bento XVI – Catequese do dia 07/09/2011

Retomamos hoje as audiências na Praça de São Pedro e a “escola de oração” que estamos vivendo juntos nestas catequeses das quartas-feiras. Eu gostaria de começar meditando sobre alguns salmos que, como comentei no mês de junho, formam o “livro de oração” por excelência. O primeiro salmo no qual eu gostaria de me deter é um salmo de lamentação e de súplica, imbuído de uma profunda confiança, no qual a certeza da presença de Deus é o fundamento da oração que se produz em uma condição de extrema dificuldade do orante. Trata-se do salmo 3, que a tradição judaica atribui a Davi no momento em que ele foge de Absalão (cf. vers. 1). É um dos episódios mais dramáticos e sofridos da vida do rei, quando seu próprio filho usurpa o trono real e o obriga a abandonar Jerusalém para salvar sua vida (cf. 2 Sam, 15 ss). A situação de angústia e de perigo experimentada por Davi é o pano de fundo desta oração e uma ajuda para a sua compreensão, apresentando-se como a situação típica em que um salmo é recitado. No grito do salmista, todo homem pode reconhecer estes sentimentos de dor, de amargura, e ao mesmo tempo de confiança em Deus, que, segundo a narração bíblica, acompanhou Davi em sua fuga da cidade. O salmo começa com uma invocação ao Senhor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Escola de Oração: VIII – A arte ajuda na relação com Deus – Bento XVI – Catequese do dia 31/08/2011


Queridos irmãos e irmãs:
Neste período, recordei muitas vezes a necessidade que todo cristão tem de encontrar tempo para Deus, através da oração, em meio às muitas ocupações da nossa jornada. O próprio Senhor nos oferece muitas oportunidades para que nos lembremos d'Ele. Hoje eu gostaria de falar brevemente de um desses meios que podem nos conduzir a Deus e ser também uma ajuda para encontrar-nos com Ele: é o caminho das expressões artísticas, parte dessa via pulchritudinis – “via da beleza” – da qual falei tantas vezes e que o homem deveria recuperar em seu significado mais profundo.

Eco da Palavra – Solenidade de Todos os Santos (06/11/2011) – Mt 5, 1-12a

Neste domingo, 06/11, celebramos a Solenidade de Todos os Santos. Esta solenidade tem sua data no dia 1º/11, mas por não ser feriado no Brasil, e por isso muitos estarem privados da participação na eucaristia, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pediu à Santa Sé para que, no Brasil, esta solenidade seja celebrada no Domingo seguinte ao dia 1º. Digo isso, para alertar os cristãos católicos para o risco que corremos, uma vez que tramitam no Judiciário e no Congresso Nacional iniciativas para acabar com todos os feriados religiosos, em nome do Estado Laico. É preciso manifestar aos nossos deputados federais e senadores da república o nosso descontentamento com tal iniciativa, doutro modo, poderemos ser culpados pelo fim de datas importantes como Natal, Corpus Christi, a Padroeira do Brasil, a Sexta-feira da Paixão e Finados.
Vamos agora à liturgia desta solenidade.

domingo, 2 de outubro de 2011

Subir ou descer, qual é o projeto cristão?

A Carta aos Filipenses (2,6-8) nos diz que “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. É um caminho de descida, chamado na teologia de Kênosis, palavra grega que se traduz por “esvaziamento”.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eco da Palavra – XXIV Dom. do Tempo Comum (11/09/2011) – Mt 18, 44-52


Depois de lermos os Sermões da Montanha (Mt 5-7), Apostólico ou Missionário (Mt 10) e Parabólico (Mt 13), agora estamos no quarto grande sermão do Evangelho de Mateus: o Sermão ou Discurso Eclesiológico (Mt 18), onde o evangelista compila os ensinamentos de Jesus sobre a vida na comunidade eclesial.
Domingo passado o ensinamento era sobre a co-responsabilidade dos batizados quanto à salvação. Jesus nos ensinou a fazer todo o possível para que os irmãos que erram retomem o bom caminho, o caminho da salvação. E o profeta Ezequiel nos alertou para não nos omitirmos, pois isto poderia complicar a nossa própria salvação (Cf. Ez 33,7-9).
Nesta semana, Jesus nos dá mais um ensinamento quanto à nossa convivência eclesial: é sobre o PERDÃO.

domingo, 4 de setembro de 2011

Um testemunho eloqüente de fé em meio a uma sociedade descristianizada


Em meados do mês de agosto, juntamente com alguns jovens de nossa paróquia, tive a oportunidade de viver em Madri, na Espanha, a 26ª Jornada Mundial da Juventude: um encontro de 2 milhões de jovens de todo o mundo com o sucessor de Pedro, Sua Santidade o Papa Bento XVI.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a realidade laica, secularista, descristianizada em que vive a Espanha e, de certo modo, toda a Europa.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Outro Olhar: Jesus de Nazaré

Queridos(as) irmãos(ãs),
Partilho com vocês esses vídeos do Programa "Em pauta", da TV Canção Nova, sobre o livro "Jesus de Nazaré", escrito pelo teólogo Joseph Ratzinger (Bento XVI).
A presença do nosso querido irmão Pe. Luis Henrique Eloy e Silva só enriquece o programa e provoca a vontade de ler o livro.
Depois de ver o programa, aqui organizado em três vídeos, eu quis ler o livro e já comecei. Quem sabe, você também faça o mesmo?
Deixe o seu comentário, pois o que faz o nosso blog é a interatividade.
Abraços...


Pe. Jean Poul
Varginha/MG
28/07/2011


  

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Eco da Palavra – XVII Dom. do Tempo Comum (24/07/2011) – Mt 13, 44-52

Estamos concluindo mais um ciclo na liturgia dominical do Tempo Comum. Este ano estamos lendo o evangelho de São Mateus. E Mateus, como cada um dos evangelistas, organiza o seu evangelho em vista dos seus objetivos. A organização de Mateus é compilar cinco grandes discursos ou sermões de Jesus e intercalar feitos, sinais, milagres, atos de Jesus que comprovem e reforcem o seu ensinamento. Na primeira parte do Tempo Comum, ainda antes da quaresma, lemos e refletimos na liturgia o primeiro grande sermão, talvez o mais conhecido, o Sermão da Montanha. Logo depois de Pentecostes, quando retomamos o Tempo Comum, ouvimos o Sermão Apostólico ou Missionário, quando Jesus orienta e envia os seus discípulos em missão. Há três ou quatro semanas estamos acolhendo o Sermão Parabólico ou das Parábolas. Diferentemente dos outros evangelistas que espalham as parábolas ao longo da vida pública de Jesus, em seus evangelhos, Mateus concentra as principais parábolas neste grande sermão que estamos encerrando neste domingo, com três preciosas e pequenas parábolas. Aliás, dizem que “os melhores perfumes estão nos pequenos frascos”.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Eco da Palavra – XV Dom. do Tempo Comum (10/07/2011) – Mt 13,1-23

Neste domingo, é quase desnecessário fazer a homilia, pois o próprio Senhor Jesus conta a parábola do semeador e a explica logo em seguida. Contudo, vivemos numa sociedade que a cada dia se torna mais impermeável à semente da Palavra. Por isso, colocamo-nos a refletir sobre o que Jesus nos disse não para compreendê-la apenas, mas para que ela alcance a profundidade da nossa existência, germine em nossa vida e nos faça produzir as flores e os frutos cuja potencialidade traz a semente.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Outro Olhar: É dia de Festa


Queridos(as) irmãos(ãs),
Partilho com vocês essa música, composta numa das comunidades da paróquia a que sirvo e apresentada pelo grupo que reúne pessoas de várias comunidades.
Foi a vencedora do 31º Festival da Canção Cristã de Varginha/MG, acontecido nos dias 23, 24 e 25 de junho passado.
Merece ser partilhada.
Deixe o seu comentário, pois o que faz o nosso blog é a interatividade.
Abraços...

Pe. Jean Poul
Varginha/MG
06/07/2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O que é verdadeiramente a amizade? Bento XVI

«Já não sois servos, mas amigos» (cf. Jo 15, 15). O que é verdadeiramente a amizade? Idem velle, idem nolle – querer as mesmas coisas e não querer as mesmas coisas: diziam os antigos. A amizade é uma comunhão do pensar e do querer. O Senhor não se cansa de nos dizer a mesma coisa: «Conheço os meus e os meus conhecem-Me» (cf. Jo 10, 14). O Pastor chama os seus pelo nome (cf. Jo 10, 3). Ele conhece-me por nome. Não sou um ser anônimo qualquer, na infinidade do universo. Conhece-me de modo muito pessoal. E eu? Conheço-O a Ele? A amizade que Ele me dedica pode apenas traduzir-se em que também eu O procure conhecer cada vez melhor; que eu, na Escritura, nos Sacramentos, no encontro da oração, na comunhão dos Santos, nas pessoas que se aproximam de mim mandadas por Ele, procure conhecer sempre mais a Ele próprio. A amizade não é apenas conhecimento; é sobretudo comunhão do querer. Significa que a minha vontade cresce rumo ao «sim» da adesão à d’Ele. De fato, a sua vontade não é uma vontade externa e alheia a mim mesmo, à qual mais ou menos voluntariamente me submeto ou então nem sequer me submeto. Não! Na amizade, a minha vontade, crescendo, une-se à d’Ele: a sua vontade torna-se a minha, e é precisamente assim que me torno de verdade eu mesmo. Além da comunhão de pensamento e de vontade, o Senhor menciona um terceiro e novo elemento: Ele dá a sua vida por nós (cf. Jo15, 13; 10, 15). Senhor, ajudai-me a conhecer-Vos cada vez melhor! Ajudai-me a identificar-me cada vez mais com a vossa vontade! Ajudai-me a viver a minha existência, não para mim mesmo, mas a vivê-la juntamente convoco para os outros! Ajudai-me a tornar-me sempre mais vosso amigo! (Bento XVI, na homilia do dia 29/06/2011)

domingo, 3 de julho de 2011

Escola de Oração: VII – Aprendendo a orar com os Salmos – Bento XVI – Catequese do dia 22/06/2011

Nas catequeses anteriores, vimos algumas figuras do Antigo Testamento, particularmente significativas, em nossa reflexão sobre a oração. Falei sobre Abraão, que intercede pelas cidades estrangeiras; sobre Jacó, que, na luta noturna, recebe a bênção; sobre Moisés, que invoca o perdão sobre o povo; e sobre Elias, que reza pela conversão de Israel. Com a catequese de hoje, eu gostaria de iniciar uma nova etapa do caminho: ao invés de comentar episódios particulares de personagens em oração, entraremos no “livro da oração” por excelência, o Livro dos Salmos. Nas próximas catequeses, leremos e meditaremos alguns dos salmos mais belos e mais apreciados pela tradição orante da Igreja. Hoje, eu gostaria de introduzir esta etapa falando do Livro dos Salmos em seu conjunto.

Eco da Palavra – XIII Dom. do Tempo Comum (26/06/2011) – Mt 10,37-42

Depois de celebrarmos as Festas Pascais, com seus preparativos na Quaresma e seus prolongamentos no Tempo Pascal, que encerramos com a Solenidade de Pentecostes e depois de celebrarmos os dois grandes mistérios da nossa fé: a Santíssima Trindade e a Santíssima Eucaristia, no último domingo e na última quinta-feira respectivamente, retomamos nosso caminhar no Tempo Comum.
O Tempo Comum caracteriza-se pelo cotidiano. É o tempo do amadurecimento, por isso predomina a cor verde. É o tempo da simplicidade, do corriqueiro, o tempo das leituras contínuas das histórias da Bíblia. É o tempo do ministério público de Jesus para formar seus discípulos que assumiriam a missão quando da sua volta para o Pai.
Deve ser assim também conosco. O Tempo Comum deve ser o tempo da nossa formação na escola de Jesus de Nazaré, o missionário do Pai e anunciador do Reino. Devemos aproveitar cada uma das lições que ele nos ensina em cada domingo e porque não em cada dia, aprendê-la para sempre e aplicá-la em nossa vida concreta, diária, prática.
E, quais são as lições de hoje, deste 13º Domingo do Tempo Comum?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Eucaristia: antídoto contra o individualismo

“A Eucaristia é como o coração pulsante que dá vida a todo o corpo místico da Igreja: um organismo social baseado inteiramente no vínculo espiritual, mas concreto, com Cristo. Como diz o apóstolo Paulo: "Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão" (1 Cor 10,17). Sem a Eucaristia, a Igreja simplesmente não existiria. A Eucaristia é, de fato, o que torna uma comunidade humana um mistério de comunhão, capaz de levar Deus ao mundo e o mundo a Deus. O Espírito Santo transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo; também transforma todos os que o recebem com fé em membros do Corpo de Cristo, para que a Igreja seja verdadeiramente um sacramento de unidade dos homens com Deus e entre eles.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Escola de Oração: VI – A oração de Elias e o fogo de Deus

Na história religiosa do antigo Israel, os profetas tiveram grande relevância, com seus ensinamentos e sua pregação. Entre eles, surge a figura de Elias, suscitado por Deus para levar o povo à conversão. Seu nome significa “o Senhor é meu Deus” e é de acordo com este nome que se desenvolve toda a sua vida, consagrada inteiramente a provocar no povo o reconhecimento do Senhor como único Deus. De Elias o Eclesiástico diz: “O profeta Elias surgiu como o fogo, e sua palavra queimava como tocha” (Eclo 48,1). Com esta chama, Israel volta a encontrar seu caminho rumo a Deus. Em seu ministério, Elias reza: invoca o Senhor para que devolva a vida ao filho de uma viúva que o havia hospedado (cf. 1Rs 17,17-24), grita a Deus seu cansaço e sua angústia, enquanto foge pelo deserto, jurado de morte pela rainha Jezabel (cf. 1Rs 19,1-4), mas sobretudo no monte Carmelo, onde se mostra todo o seu poder de intercessor, quando, diante de todo Israel, reza ao Senhor para que se manifeste e converta o coração do povo. É o episódio narrado no capítulo 18 do Primeiro Livro dos Reis, no qual hoje nos deteremos.

O sincretismo de Israel
Encontramo-nos no reino do Norte, no século IX antes de Cristo, em tempos do rei Acab, em um momento em que Israel havia se criado uma situação de aberto sincretismo. Junto ao Senhor, o povo adorava Baal, o ídolo tranquilizador de quem se acreditava que vinha o dom da chuva e a quem, por isso, se atribuía o poder de dar fertilidade aos campos e vida aos homens e às bestas. Ainda pretendendo seguir o Senhor, Deus invisível e misterioso, o povo buscava segurança também em um deus compreensível e previsível, de quem acreditava poder obter fecundidade e prosperidade em troca de sacrifícios. Israel estava cedendo à sedução da idolatria, a contínua tentação do crente, figurando-se poder “servir a dois senhores” (cf. Mt 6,24; Lc 16,13) e de facilitar os caminhos inescrutáveis da fé no Onipotente, colocando sua confiança também em um deus impotente feito por homens.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Escola de Oração: V - O perdão que renova e transforma – Bento XVI – Catequese do dia 1º/06/2011

Moisés: homem de oração
Lendo o Antigo Testamento, uma figura se destaca entre as demais: a de Moisés, como homem de oração. Moisés, o grande profeta e guia na época do êxodo, exerceu sua função de mediador entre Deus e Israel, tornando-se portador, com relação ao povo, das palavras e mandatos divinos, conduzindo-o rumo à liberdade da Terra Prometida, ensinando os israelitas a viverem na obediência e na confiança a Deus, durante a longa estadia no deserto, mas também, sobretudo, rezando. Ele reza pelo Faraó quando Deus, com as pragas, tentava converter o coração dos egípcios (cf. Ex 8-10); pede ao Senhor a cura da irmã Maria, enferma de lepra (cf. Nm 12,9-13); intercede pelo povo que havia se rebelado, aterrorizado pelo informe dos exploradores (cf. Nm 14,1-19); reza quando o fogo estava devorando o acampamento (cf. Nm 11,1-2) e quando serpentes venenosas estavam fazendo um massacre (cf. Nm 21,4-9); dirige-se ao Senhor e reage protestando quando o peso da sua missão se tornou muito grande (cf. Nm 11,10-15); vê Deus e fala com ele "face a face", como se fala com um amigo (cf. Ex 24,9-17; 33,7-23; 34,1-10.28-35).

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A responsabilidade da Família Cristã - Bento XVI

“... As nações de sólida tradição cristã têm uma especial responsabilidade na defesa e promoção do valor da família fundada no matrimônio, que é, portanto, decisiva, tanto no âmbito educativo como no social. (...) Em nossos dias, enquanto infelizmente se constata a multiplicação das separações e dos divórcios, a fidelidade dos cônjuges se tornou em si um testemunho significativo do amor de Cristo, que permite viver o matrimônio para o que é, ou seja, a união de um homem e de uma mulher que, com a graça de Cristo, se amam e se ajudam durante a vida, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. A primeira educação na fé consiste exatamente no testemunho desta fidelidade ao pacto conjugal; dela, os filhos aprendem sem palavras que Deus é amor fiel, paciente, respeitoso e generoso. A fé no Deus que é Amor se transmite antes de tudo com o testemunho de uma fidelidade ao amor conjugal, que se traduz naturalmente em amor pelos filhos, fruto desta união. Mas esta fidelidade não é possível sem a graça de Deus, sem o apoio da fé e do Espírito Santo. Este é o motivo pelo qual Nossa Senhora não deixa de interceder diante do seu Filho, para que – como nas bodas de Caná – renove continuamente nos cônjuges o dom do “vinho bom”, isto é, da sua Graça, que permite viver em “uma só carne”, nas diversas idades e situações da vida”.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Escola de Oração: IV – A luta de Jacó – Bento XVI – Catequese do dia 25/05/2011


Hoje, eu gostaria de refletir convosco sobre um texto do Livro do Gênesis que narra um episódio um pouco especial da história do patriarca Jacó. É um fragmento de difícil interpretação, mas importante na nossa vida de fé e de oração: trata-se do relato da luta com Deus na passagem de Jaboc.


Jacó e sua astúcia
Como recordareis, Jacó tinha tirado do seu irmão Esaú a primogenitura, em troca de um prato de lentilhas, e depois recebeu de maneira enganosa a bênção do seu pai Isaac, que nesse momento era muito idoso, aproveitando-se da sua cegueira. Fugindo da ira de Esaú, refugiou-se na casa de um parente, Labão; tinha se casado, havia enriquecido e voltava à sua terra natal, disposto a enfrentar o seu irmão, depois de ter tomado algumas prudentes medidas. Mas quando tudo está preparado para este encontro, depois de ter feito que os que estavam com ele atravessassem a passagem que delimitava o território de Esaú, Jacó fica sozinho e é agredido por um desconhecido, com quem luta a noite inteira. Esta luta corpo a corpo – que encontramos no capítulo 32 do Livro do Gênesis – se converte para ele em uma singular experiência de Deus.

Eco da Palavra – Ascensão do Senhor (05/06/2011) – Mt 28,16-20


Há duas fontes que o pregador na liturgia não pode deixar de visitar e delas beber para alimentar a sua pregação. A primeira é a própria Palavra de Deus ouvida, meditada e atualizada por ele para a assembléia. A segunda são os textos eucológicos (oração da coleta, oração sobre as oferendas, prefácio e oração pós-comunhão). Esses textos são, geralmente, antigos e expressão o modo como a Igreja recebeu, ao longo dos séculos, o anúncio daquela Palavra que é a primeira fonte.

Os textos eucológicos da missa da Ascensão do Senhor nos levam a compreender que o ciclo salvífico iniciado com o Mistério da Encarnação, quando o Verbo eterno, sendo unicamente Deus, desceu de junto do Pai e pelo Espírito encarnou-se no seio da Virgem Maria, fazendo-se homem, foi agora concluído.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Na calada das noites

As noites que emolduram o dia 24 de maio de 2011 jamais deveriam ser esquecidas. Deveriam ficar gravadas na história do país que herdou o seu nome de uma árvore em franca extinção. Contudo, se nós esquecermos, o planeta não se esquecerá, pois serão as gerações futuras a sofrer as mais trágicas consequências das artimanhas desencadeadas nestas duas noites.
Na primeira, nas primeiras horas do dia 24 de maio de 2011, armavam-se em Ipixuna/PA uma tocaia, numa estrada de terra por onde, ao raiar do dia, deveriam passar José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva.
O casal de líderes camponeses integrava o projeto de assentamento agroextrativista Praialta-Piranheira, criado em 1997 para trabalhar especialmente com produtores de castanha de maneira sustentável, sem agredir a floresta, mãe-nutriz do povo amazônico. Praialta-Piranheira é onde existe uma das últimas reservas de castanha-do-pará. Essa reserva, em razão da grande riqueza em madeira, era alvo de cobiça de madeireiros e grileiros.
José Cláudio, líder da associação de camponeses da região, tornou-se conhecido por denunciar a ação de madeireiros ilegais na floresta amazônica.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Catequese é iniciação à vida cristã

Catequizar é conduzir pessoas e comunidades bem situadas histórica e culturalmente a responder o que é ser cristão hoje, numa linguagem significativa, a partir de Jesus Cristo e das primeiras respostas formuladas no Novo Testamento e, mais tarde, nos Símbolos da Fé (Credos). É iniciação gradual à vida de uma comunidade chamada a “viver pelo Espírito de Cristo, o Filho de Deus”, o que significa afirmar que Outro ser dentro de nós está vivendo a nossa vida, dando-lhe um sentido que transcende todas as aspirações humanas, através dele olhamos o mundo e nele o mundo nos é oferecido e confiado como tarefa e missão.
Objetivo último da catequese é preparar a “experiência”, sempre pessoal e singular, embora sempre no seio de uma comunidade evangelizadora, do encontro com Deus em Jesus Cristo.
Iniciar à vida na comunidade cristã é iniciar a uma vida de relação íntima com o Mistério do próprio Deus revelado em Jesus Cristo, que abre novas formas de relacionamento com o irmão e com o mundo. Essa é a força e o atrativo da Palavra que deve ressoar nas palavras da catequese, palavras que giram sempre em torno à evocação da memória de Jesus. Essa força, que é o sopro do Espírito, lembrando e atualizando as palavras de Jesus, levou muitos dos iniciados na vida guiada pelo Espírito de Cristo a enfrentar corajosamente a perseguição e a morte, para não perder uma vida, que ao revelar-se como vida de Deus no coração humano, revela-se como vida eterna.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Escola de Oração: III – A oração intercessora de Abraão – Bento XVI – Catequese do dia 18/05/2011


Nas duas últimas catequeses, refletimos sobre a oração como fenômeno universal, que - inclusive de diversas formas - está presente nas culturas de todas as épocas. Hoje, no entanto, eu gostaria de começar um percurso bíblico sobre este tema, que nos conduzirá a aprofundar no diálogo de aliança entre Deus e o homem, presente na história da salvação, até o seu cume, a Palavra definitiva que é Jesus Cristo. Este caminho nos fará deter-nos em alguns textos importantes e figuras paradigmáticas do Antigo e do Novo Testamentos.

A Bíblia, história da relação entre Deus e o homem
Será Abraão, o grande patriarca, pai de todos os crentes (cf. Rm 4,11-12.16-17), quem nos oferecerá o primeiro exemplo de oração, no episódio de intercessão pela cidade de Sodoma e Gomorra. E eu gostaria de vos convidar a aproveitar este percurso que faremos nas próximas catequeses para aprender a conhecer melhor a Bíblia, que espero que tenhais em vossas casas; e, durante a semana, podeis lê-la e meditá-la na oração, para conhecer a maravilhosa história da relação entre Deus e o homem, entre o Deus que se comunica conosco e o homem que responde, que reza.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vídeo da Semana: O Canto Gregoriano

Queridos(as) irmãos(ãs),
Partilho com vocês essa reportagem feita em Belo Horizonte, sobre o Canto Gregoriano.
Muito bem feita, merece ser partilhada.
Deixe o seu comentário, pois o que faz o nosso blog é a interatividade.
Abraços...
Pe. Jean Poul
Varginha/MG
27/05/2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eco da Palavra – V Dom. da Páscoa (22/05/2011) – Jo 14,1-12

A primeira pergunta que me fiz quando me deparei com esse texto na liturgia do 5º Domingo da Páscoa foi a seguinte: porque voltar ao contexto da última ceia se já estamos na Páscoa?
Explico: os capítulos 13, 14, 15, 16 e 17 do evangelho de São João descrevem aquilo que aconteceu na última ceia. E o evangelho de hoje está precisamente no capítulo 14.
A resposta está na afirmação inicial de Jesus: “Na casa do meu Pai há muitas moradas. (...) Vou preparar-vos um lugar” (Jo 14, 2).

Para compreender bem o Mistério Pascal
Nós corremos o risco de compreender o mistério pascal apenas pela metade. Entender que trata-se da paixão, morte e ressurreição de Jesus e pronto. Sim, isto é o mistério pascal. No entanto, há outro lado deste mistério. É a nossa paixão, morte e ressurreição.
A garantia de Jesus de que nenhum de nós ficará sem lugar na casa do Pai é também a afirmação de que nenhum de nós tem casa permanente nesta vida. Aqui, na terra, somos peregrinos, transeuntes, estamos acampados em tendas, à procura da morada definitiva.
São Paulo diz isso: “Sabemos que se a nossa habitação terrena, esta morada em que vivemos, for dissolvida, possuímos uma casa que é obra de Deus, uma eterna morada nos céus, que não é feita pela mão humana” (2Cor 5,1).
Desta forma, temos que tomar consciência do todo do mistério da Páscoa: “Cristo ressuscitou e nós com Ele, aleluia”, diz a música.
Celebrar a Páscoa – e é o que estamos fazendo há cinco domingos – é celebrar a nossa participação na paixão, morte e ressurreição de Jesus. Com Ele e como Ele, nós também sofremos, morreremos e ressuscitaremos. Ninguém de nós ficará para traz.

Ou viver sem a páscoa
Corremos o risco de viver negando esta verdade de nossa fé. E nossa cultura pós-moderna, consumista, hedonista tenta impregnar em nós esse modo de viver sem a páscoa.
Primeiro, negando a ressurreição: dizendo que a morte é o ponto final de nossa existência, que não vida após a morte etc. Ou até mesmo negando a própria morte: quantos há que vivem como se fossem super-homens e super-mulheres, arriscando a vida sem motivos que ultrapassem uma dose de adrenalina no sangue? Somos todos mortais, e morreremos, mas também ressuscitaremos com Cristo.
Depois terceirizando a morte. Há pessoas quem nem mais enterrar os mortos querem. Deixam seus entes queridos nos hospitais e lá mesmo já contratam os serviços funerários solicitando que, depois do enterro, avisem a família do falecimento. Levar para casa, velar o morto, viver a saudável experiência da perda é cada dia mais raro. Resultado: vivemos longe da morte e como se nunca fôssemos morrer. Idolatramos a vida! E por isso, não somos mais capazes do sofrimento, da dor, da privação... acabamos adeptos do desespero.

Muitas moradas e um só caminho
Voltando à afirmação de Jesus: “... há muitas moradas” (Jo 14,2) e um só caminho – “eu sou o caminho (...) ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).
Se queremos habitar as moradas preparadas pelo Filho na casa do Pai, é preciso andar pelo caminho que é o próprio Filho, Jesus.
E o primeiro modo de andar por esse caminho é a Fé: “Credes em Deus, crede em mim também” (Jo 14,1). Fé não é apenas acreditar, é tornar-se aquilo que se crê. Fé é adesão. Aderir é assumir a forma daquilo em que se adere. A fé que nos pede Jesus é configuração a si, é tornarmo-nos como Ele.
E isso nós fazemos por meio do segundo modo de andar pelo caminho: “As palavras que eu digo, eu não as digo por mim mesmo (...) é o Pai que permanencendo em mim realiza as suas obras (...) e se não credes na minha palavra, crede, contudo, por causa destas obras” (Jo 14,10-11). A Palavra, em sua função performática é a grande força capaz de nos configurar a Cristo. Ouvir, ler, orar, meditar, contemplar, partilhar, comentar e anunciar a Palavra são atitudes capaz de nos tornar “outros Cristos” no mundo, realizando as obras que Ele fez.
Esse é o terceiro modo: “aquele que crer em mim, fará também as obras que eu faço e fará ainda obras maiores” (Jo 14,12). Realizar as obras de Jesus. O problema é que ficamos querendo curar os cegos, fazer andar os coxos, ressuscitar os mortos e não começamos pelo começo: acolhendo como Jesus acolheu, sendo misericordiosos como Jesus é misericordioso, sorrindo como Jesus sorriu, andando pelo meio do povo, sem reservas ou preconceitos, como Jesus andou etc.
Hoje temos o testemunho da Beata Dulce dos Pobres. O que fez esta bem-aventurada religiosa? Andou pelo meio dos pobres, recolheu os doentes num mercado velho, sob as arcadas da Igreja do Bonfim e por fim no galinheiro do convento. Começou pelo começo: configurou-se a Cristo por meio das mais simples e corriqueiras atitudes.
Essa é a nossa tarefa, se queremos chegar, pelo único caminho, às muitas moradas da casa do Pai.
Pe. Jean Poul
Varginha/MG
25/05/2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Escola de Oração: II - A oração e o sentido religioso – Bento XVI – Catequese do dia 11/05/2011



Hoje eu gostaria de continuar refletindo sobre como a oração e o sentido religioso fazem parte do homem ao longo de toda a sua história.


Nosso tempo: secularismo e redescoberta de Deus
Vivemos em uma época na qual são evidentes os sinais de secularismo. Parece que Deus desapareceu do horizonte de muitas pessoas ou que se tornou uma realidade diante da qual se permanece indiferente. Vemos, no entanto, ao mesmo tempo, muitos sinais que nos indicam um despertar do sentido religioso, uma redescoberta da importância de Deus para a vida do homem, uma exigência de espiritualidade, de superar uma visão puramente horizontal, material da vida humana. Analisando a história recente, fracassou a previsão daqueles que, na época do iluminismo, anunciavam o desaparecimento das religiões e exaltavam a razão absoluta, separada da fé, uma razão que teria afastado as trevas dos dogmas religiosos e que teria dissolvido "o mundo do sagrado", restituindo ao homem a sua liberdade, sua dignidade e sua autonomia de Deus. A experiência do século passado, com as duas trágicas guerras mundiais, colocou em crise aquele progresso que a razão autônoma do homem sem Deus parecia poder garantir.
O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Pela criação, Deus chama todos os seres do nada à existência. (...) Mesmo depois de, pelo pecado, ter perdido a semelhança com Deus, o homem continua a ser à imagem do seu Criador. Conserva o desejo d'Aquele que o chama à existência. Todas as religiões testemunham esta busca essencial do homem" (n. 2566). Poderíamos dizer - como mostrei na catequese anterior - que não houve nenhuma grande civilização, desde os tempos mais antigos até os nossos dias, que não tenha sido religiosa.

Homo religiosus
O homem é religioso por natureza, é homo religiosus, assim como é homo sapiens e homo faber: "O desejo de Deus - afirma também o Catecismo - está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus" (n. 27). A imagem do Criador está impressa em seu ser e sente a necessidade de encontrar uma luz para dar resposta às perguntas que têm a ver com o sentido profundo da realidade - resposta que ele não pode encontrar em si mesmo, no progresso, na ciência empírica. O homo religiosus não emerge somente do mundo antigo, mas atravessa toda a história da humanidade. Para este fim, o rico terreno da experiência humana viu surgir diversas formas de religiosidade, na tentativa de responder ao desejo de plenitude e de felicidade, à necessidade de salvação, à busca de sentido. O homem "digital", assim como o das cavernas, busca na experiência religiosa os caminhos para superar sua finitude e para assegurar sua precária aventura terrena. No demais, a vida sem um horizonte transcendente não teria um sentido completo; e a felicidade à qual tendemos se projeta ao futuro, rumo a um amanhã que ainda se cumprirá. O Concílio Vaticano II, na declaração Nostra aetate, sublinhou isso sinteticamente. Diz assim: "Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, profundamente preocupam seus corações: que é o homem? qual o sentido e a finalidade da vida? que é o pecado? donde provém o sofrimento, e para que serve? qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte? finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?" (n.1). O homem sabe que não pode responder por si mesmo à sua própria necessidade fundamental de entender. Ainda que, iludido, acredite ainda que é autossuficiente, tem a experiência de que não se basta a si mesmo. Precisa abrir-se ao outro, a algo ou a alguém, que possa dar-lhe o que lhe falta; deve sair de si mesmo rumo Àquele que pode saciar a amplidão e profundidade do seu desejo.
O homem carrega dentro de si uma sede do infinito, uma nostalgia da eternidade, uma busca da beleza, um desejo de amor, uma necessidade de luz e de verdade, que o empurram em direção ao Absoluto; o homem carrega dentro de si o desejo de Deus. E o homem sabe, de alguma forma, que pode dirigir-se a Deus, que pode rezar-lhe. São Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos da história, define a oração como a "expressão do desejo que o homem tem de Deus". Esta atração por Deus, que o próprio Deus colocou no homem, é a alma da oração, que se reveste de muitas formas e modalidades segundo a história, o tempo, o momento, a graça e, finalmente, o pecado de cada um dos que rezam. A história do homem conheceu, de fato, variadas formas de oração, porque ele desenvolveu diversas modalidades de abertura ao Alto e ao "mais além", tanto que podemos reconhecer a oração como uma experiência presente em toda religião e cultura.

Homo orans
De fato, queridos irmãos e irmãs, como vimos na última catequese, a oração não está vinculada a um contexto particular, mas se encontra inscrita no coração de toda pessoa e toda civilização. Naturalmente, quando falamos da oração como experiência do homem enquanto tal, do homo orans, é necessário ter presente que esta é uma atitude interior, antes que uma série de práticas e fórmulas; um modo de estar frente a Deus, antes que de realizar atos de culto ou pronunciar palavras. A oração tem seu centro e fundamenta suas raízes no mais profundo da pessoa; por isso, não é facilmente decifrável e, pelo mesmo motivo, pode estar sujeita a mal-entendidos e mistificações. Também neste sentido, podemos entender a expressão: rezar é difícil. De fato, a oração é o lugar por excelência da gratuidade, da tensão com relação ao Invisível, ao Inesperado e ao Inefável. Por isso, a experiência da oração é um desafio para todos, uma "graça" a ser invocada, um dom d'Aquele a quem nos dirigimos.
Na oração, em todas as épocas da história, o homem se considera a si mesmo e à sua situação frente a Deus, a partir de Deus e com relação a Deus, e experimenta ser criatura necessitada de ajuda, incapaz de procurar por si mesmo o cumprimento da própria existência e da própria esperança. O filósofo Ludwig Wittgenstein recordava que "rezar significa sentir que o sentido do mundo está fora do mundo". Na dinâmica desta relação com quem dá sentido à existência, com Deus, a oração tem uma de suas típicas expressões no gesto de colocar-se de joelhos. É um gesto que leva em si mesmo uma radical ambivalência: de fato, posso ser obrigado a colocar-me de joelhos - condição de indigência e de escravidão - ou posso me ajoelhar espontaneamente, confessando meu limite e, portanto, minha necessidade de Outro. A ele confesso que sou fraco, necessitado, "pecador". Na experiência da oração, a criatura humana expressa toda a sua consciência de si mesma; tudo que consegue captar de sua existência e, ao mesmo tempo, dirige-se, toda ela, ao Ser frente ao qual está; orienta sua alma àquele Mistério do qual espera o cumprimento dos seus desejos mais profundos e a ajuda para superar a indigência da própria vida. Neste olhar para o Outro, neste dirigir-se ao "Mais Além", está a essência da oração, como experiência de uma realidade que supera o sensível e o contingente.

Deus é quem dá o primeiro passo
No entanto, somente no Deus que se revela, a busca do homem encontra sua plena realização. A oração que é a abertura e elevação do coração a Deus, torna-se uma relação pessoal com Ele. E, ainda que o homem se esqueça do seu Criador, o Deus vivo e verdadeiro não deixa de convidar o homem ao misterioso encontro da oração. Como afirma o Catecismo: "Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. À medida que Deus Se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco, um drama de aliança. Através das palavras e dos atos, este drama compromete o coração e manifesta-se ao longo de toda a história da salvação" (n. 2567).
Queridos irmãos e irmãs, aprendamos a estar mais tempo diante de Deus, do Deus que se revelou em Jesus Cristo; aprendamos a reconhecer no silêncio, na intimidade de nós mesmos, sua voz que nos chama e nos reconduz à profundidade da nossa existência, à fonte da vida, ao manancial da salvação, para fazer-nos ir muito além dos limites da nossa vida e abrir-nos à medida de Deus, à relação com Ele, que é Infinito Amor.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Deus já não é invisível para o homem

O Evangelho de hoje, Quinto Domingo da Páscoa, propõe um duplo mandamento da fé: crer em Deus e crer em Jesus. O Senhor, de fato, diz a seus discípulos: “Credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14,1). Não são dados separados, mas um único ato de fé, a plena adesão à salvação realizada por Deus Pai mediante seu Filho Unigênito. O Novo Testamento pôs fim à invisibilidade do Pai. Deus mostrou seu rosto, como confirma a resposta de Jesus ao apóstolo Felipe: “Aquele que me viu, viu também o Pai” (Jo 14, 9). O Filho de Deus, com sua encarnação, morte e ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado, para nos dar a liberdade de filhos de Deus, e nos revelou o rosto de Deus, que é amor: Deus pode ser visto, é visível em Cristo. Santa Teresa d’Ávila escreve que “não devemos nos afastar do que constitui todo nosso bem e nosso remédio, quer dizer, da santíssima humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Castello interiore, 7, 6: Opere Complete, Milano 1998, 1001). Portanto, só crendo em Cristo, permanecendo unidos a Ele, os discípulos, entre os quais estamos nós, podem continuar sua ação permanente na história: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço” (Jo 14, 12).
A fé em Jesus implica segui-lo cotidianamente, nas simples ações que compõem nossa jornada. “É próprio do mistério de Deus atuar de modo oculto. Só pouco a pouco Ele constrói na grande história da humanidade sua história. Faz-se homem, mas de maneira que possa ser ignorado por seus contemporâneos, pelas forças que contam na história. Sofre e morre e, como Ressuscitado, quer chegar à humanidade só através da fé dos seus, a quem se manifesta. Continuamente Ele bate às portas do nosso coração e, se abrimos, lentamente nos torna capazes de ‘ver’” (Jesus de Nazaré II, 2011). Santo Agostinho afirma: “era necessário que Jesus dissesse: ‘eu sou o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6), porque uma vez conhecido o caminho, faltava conhecer a meta” (Tractatus in Ioh., 69, 2: CCL 36, 500), e a meta é o Pai. Para os cristãos, para cada um de nós, portanto, o Caminho para o Pai é se deixar guiar por Jesus, por sua palavra de Verdade, e acolher o dom de sua Vida. Façamos nosso o convite de São Boaventura: “Abre, portanto os olhos, tende um ouvido espiritual, abre teus lábios e dispõe teu coração, para que possas em todas as criaturas ver, escutar, louvar, amar, venerar, glorificar, honrar teu Deus” (Itinerarium mentis in Deum, I, 15) (Bento XVI, no Regina Coeli de 22 de maio de 2011).