Depois de celebrarmos as Festas Pascais, com seus preparativos na Quaresma e seus prolongamentos no Tempo Pascal, que encerramos com a Solenidade de Pentecostes e depois de celebrarmos os dois grandes mistérios da nossa fé: a Santíssima Trindade e a Santíssima Eucaristia, no último domingo e na última quinta-feira respectivamente, retomamos nosso caminhar no Tempo Comum.
O Tempo Comum caracteriza-se pelo cotidiano. É o tempo do amadurecimento, por isso predomina a cor verde. É o tempo da simplicidade, do corriqueiro, o tempo das leituras contínuas das histórias da Bíblia. É o tempo do ministério público de Jesus para formar seus discípulos que assumiriam a missão quando da sua volta para o Pai.
Deve ser assim também conosco. O Tempo Comum deve ser o tempo da nossa formação na escola de Jesus de Nazaré, o missionário do Pai e anunciador do Reino. Devemos aproveitar cada uma das lições que ele nos ensina em cada domingo e porque não em cada dia, aprendê-la para sempre e aplicá-la em nossa vida concreta, diária, prática.
São sobre o valor absoluto de Deus em nossa vida e o acolhimento.
Talvez pudéssemos começar respondendo para nós mesmos e para Deus: o que/quem é o mais importante/a absoluta prioridade de nossa vida?
Muitos poderão responder: meu pai, minha mãe, meu(minha) filho(a), meu(minha) esposo(a), a faculdade, minha profissão, meu trabalho, minha aposentadoria etc. Mas, nada disso poderia ser absoluto em nossa vida. Tudo isso deve curvar-se diante do absoluto de Deus. A resposta correta deveria ser: Deus, seu filho Jesus Cristo, o Evangelho, os mandamentos.
Podemos e até devemos amar nossos pais, nossos(as) filhos(as), esposos(as), desde que esse amor esteja subordinado a Deus, ao cumprimento de sua vontade, de seu projeto. Podemos e até devemos nos empenhar numa faculdade, num trabalho, numa profissão e até almejar a justa aposentadoria, desde que tudo isso esteja subordinado a Deus, à sua justiça.
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus” (Mt 6,33), disse Jesus. Tudo que é bom pode fazer parte da nossa vida, mas não pode ocupar o lugar absoluto de Deus. “Amar a Deus sobre todas as coisas” é o que nos manda o primeiro mandamento.
Nem mesmo a nossa vida, sua conservação, nosso bem estar, pode ser colocado como nossa primeira prioridade. Há tantas pessoas que motivadas pela conservação de sua vida abrem mão dos valores do Evangelho e até mesmo de sua participação ativa na construção do Reino, gerando assim um comodismo pastoral.
“Nada antepor a Cristo”, ensina São Paulo e retoma São Bento ensinando seus monges.
Olhe que belo exemplo nos apresenta o Segundo livro dos Reis (4,8-11.14-16a): a mulher que convida Eliseu para ir a sua casa fazer uma refeição e depois o acolhe sempre em seu lar está desconfiada, e comenta com o seu marido, que Eliseu é um homem santo de Deus. Ou seja, ela o acolheu sem saber quem ele era, arriscou a sua vida e da sua família para cumprir o mandamento da acolhida, tão caro ao povo de Israel, depois que Abraão hospedou anjos sem o saber. Por ser um profeta, aquela mulher convence seu marido a construir um quarto cheio de simplicidade, mas com todos os recursos da época: cama, mesa, cadeira e candeeiro, para acolher bem o homem de Deus. E aquela família acolhe gratuitamente o santo profeta. Aquela família poderia, agora que tem um quarto decente, uma acomodação adequada colocar preço para a estadia do profeta, mas não, não é o dinheiro ou o conforto que ele pode trazer a prioridade absoluta daquela casa. A prioridade é cumprir o mandamento de Deus: acolher. Como retribuição eles recebem do profeta não apenas a paga pela hospedagem, eles ganham a realização de um sonho: ter um filho. Até mesmo neste sonho está a prioridade de Deus, pois para o povo de Israel era uma desgraça a infertilidade, porque ter filhos significava colaborar com Deus na criação do Povo da Aliança.
Aquela família de Sunan acolhe porque dá o valor devido à vida (relativo) e a Deus (absoluto). Também nós somos convidados por Jesus no evangelho a acolher: “quem acolhe um profeta pelo simples fato de ser profeta, receberá recompensa de profeta e quem recebe um justo pelo simples fato de ser justo, receberá recompensa de justo” (Mt 10,41), na certeza de que não ficaremos sem a devida recompensa e sem a recompensa maior de sermos acolhidos igualmente na Casa do Pai, um dia.
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