Estamos concluindo mais um ciclo na liturgia dominical do Tempo Comum. Este ano estamos lendo o evangelho de São Mateus. E Mateus, como cada um dos evangelistas, organiza o seu evangelho em vista dos seus objetivos. A organização de Mateus é compilar cinco grandes discursos ou sermões de Jesus e intercalar feitos, sinais, milagres, atos de Jesus que comprovem e reforcem o seu ensinamento. Na primeira parte do Tempo Comum, ainda antes da quaresma, lemos e refletimos na liturgia o primeiro grande sermão, talvez o mais conhecido, o Sermão da Montanha. Logo depois de Pentecostes, quando retomamos o Tempo Comum, ouvimos o Sermão Apostólico ou Missionário, quando Jesus orienta e envia os seus discípulos em missão. Há três ou quatro semanas estamos acolhendo o Sermão Parabólico ou das Parábolas. Diferentemente dos outros evangelistas que espalham as parábolas ao longo da vida pública de Jesus, em seus evangelhos, Mateus concentra as principais parábolas neste grande sermão que estamos encerrando neste domingo, com três preciosas e pequenas parábolas. Aliás, dizem que “os melhores perfumes estão nos pequenos frascos”.
A primeira parábola de hoje é a do homem que encontrou um terreno e nele viu um tesouro escondido. Aquele tesouro não estava à vista, não era aparente. Do contrário, muitos o teriam visto e mesmo o dono do terreno não o teria vendido. Aquele homem viu o invisível, foi além das aparências. Onde todos viam um terreno baldio, ele enxergou um tesouro. Assim é o homem e a mulher de fé: enxerga o que os outros não vêem, vê o invisível, vai além das aparências.
Não é um adivinho ou uma pessoa cheia de premonições.
Veja só. Quantas vezes você já ouviu, dentro da sua própria casa: “que bobagem é essa de ir à missa todo domingo, participar dos círculos bíblicos, rezar todos os dias? Larga mão disso. Deus tem mais o que fazer do que ficar se ocupando de você”. E você continua fiel participando da missa, da vida em comunidade, dos círculos bíblicos, dos momentos de oração pessoal e comunitária. Por quê? Porque você vê tesouro onde outros vêem terreno baldio e até cheio de lixo. Isto é ser homem e mulher de fé.
A segunda parábola, da pérola preciosa, é muito semelhante à primeira. Parece até que tiraram o tesouro e colocaram a pérola. Mas, ela esconde um elemento importante de novidade: esse homem era um comprador de pérola, ele procurava pérolas. Se na primeira parábola é ressaltada a gratuidade de Deus que dá ao homem sem nenhum esforço seu um terreno que esconde um tesouro, na segunda ressalta-se o empenho do ser humano que procura, se esforça na busca do Reino que é a pérola escondida.
A dinâmica do Reino de Deus é a do dom e da conquista: temos que nos esforça como se tudo dependesse de nós, sabendo que nenhum esforço nosso nos torna merecedores da graça de Deus, pois ela é graça, é gratuita, mas Deus só a dá a quem se esforça, busca, procura...
Por fim, a parábola da rede ressalta nossa necessária união na igreja, rede de comunidades como nos re-lembram as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Pescar com rede é muito diferente de pescar com anzol. A vara de pescar enquanto tem apensa uma linha, ela pesca só um peixe e assim mesmo, se ele quiser morder a isca. Esse peixe pode ser bom, mas pode também não prestar e aí está perdida a pescaria. Pescar com rede é diferente. A rede tem muitas linhas, entrelaçadas entre si por nós firmes e inseparáveis, que pescam vários peixes, bons e maus, independentemente de suas vontades próprias. Assim devemos ser igreja, inseparáveis, profundamente unidos na missão de pescar a todos, bons e maus, para o convívio na comunidade, deixando o julgamento para Deus e seus anjos, assim mesmo, no fim dos tempos.
Ao encerrar o sermão parabólico, Jesus pergunta: “vocês entenderam tudo isso?”. O que está em jogo nesta pergunta? Está em jogo o nosso posicionamento diante das parábolas por Ele contadas. Nós podemos ouvi-las como histórias da carochinha e continuar os mesmos. Mas, podemos também ouvi-las e nos deixar tocar por elas, nos comprometer com elas e tornamo-nos discípulos, aprendizes da Palavra. Aliás, ser discípulo é o segredo da eterna juventude. Os mestres já sabem tudo, só têm coisas velhas, aprendidas há tempos, estão cheios de rugas e rabugices. O discípulo, ao contrário tem sabedoria aprendida do passado, mas tem sempre coisas novas, aprendidas agora e outras ainda por aprender. É sempre jovem: jamais saberá tudo e sempre terá algo a aprender das parábolas de Jesus, desde que se comprometa com elas, questione-as e deixe-se questionar por elas, sem pressa pra rezar o terço ou ver a novela.
Ouvir o Evangelho tentando responder a pergunta feita por Jesus "Voce entendeu esta parabola?" é diferente de ouvir o Evangelho como quem ouve uma história. Desta forma a gente não fica procurando comprovações, mas entende a partir das parabolas, que o Evangelho traz uma BOA NOVA e não uma história. Olha, leva tempo para a gente entender isso. Ver com clareza, por exemplo o Evangelho de Mateus como comunidade e não uma pessoa sentada e escrevendo uma história. o Evangelho expressa uma mensagem, um ensinamento destinado às pessoas daquele tempo, por tudo que vivenciavam na comunidade e a nos por tudo que vivemos e cremos.
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