Há duas fontes que o pregador na liturgia não pode deixar de visitar e delas beber para alimentar a sua pregação. A primeira é a própria Palavra de Deus ouvida, meditada e atualizada por ele para a assembléia. A segunda são os textos eucológicos (oração da coleta, oração sobre as oferendas, prefácio e oração pós-comunhão). Esses textos são, geralmente, antigos e expressão o modo como a Igreja recebeu, ao longo dos séculos, o anúncio daquela Palavra que é a primeira fonte.
Os textos eucológicos da missa da Ascensão do Senhor nos levam a compreender que o ciclo salvífico iniciado com o Mistério da Encarnação, quando o Verbo eterno, sendo unicamente Deus, desceu de junto do Pai e pelo Espírito encarnou-se no seio da Virgem Maria, fazendo-se homem, foi agora concluído.
No Mistério da Encarnação rompe-se o muro que separava o homem de Deus, desde o pecado, por uma livre iniciativa de Deus em fazer-se igual a nós em tudo, exceto no pecado. A partir da encarnação, todos nós, homens e mulheres, podemos exclamar: nós temos um irmão, alguém da nossa raça e natureza, que além de ser homem é também Deus!
Já no Mistério da Ascensão do Senhor, fecha-se o ciclo: Deus que descera dos céus, sendo unicamente Deus, torna-se Deus-Homem, vive a nossa vida, morre a nossa morte e ressuscita. Quarenta dias após conviver, ressuscitado, com os seus discípulos, o Homem-Deus sobe aos céus, voltando, agora não mais Deus puro, mas Deus Humano, ao seio da Trindade.
Nossa exclamação agora pode ser outra: além de ter um irmão que é Deus, agora temos um irmão dentro da mais pura divindade, a Santíssima Trindade!
A comunhão estabelecida pelo mistério da salvação em Jesus Cristo é agora intrínseca (íntima) e ontológica (na ordem do ser), portanto inseparável. Não há mais pecado capaz de tirar Deus da comunhão com o Homem, na terra, e nem mesmo o Homem da comunhão com Deus, na Trindade.
A partir daí, a Ascensão do Senhor poderia ser a conclusão do Tempo e do Mistério Pascal se não fosse outra dimensão, aquela que aparece na fonte primeira da Palavra de Deus.
Embora São Mateus não registre no seu evangelho a ascensão propriamente dita, como fez São Lucas nos Atos dos Apóstolos que ouvimos na primeira leitura, ele se preocupa em nos transmitir o testamento, as últimas palavras de Jesus antes de subir aos céus. E são palavras comprometedoras para nós cristãos:
“Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que vos ensinei” (Mt 28,19-20).
A partir da ascensão do Senhor ao Céu, sua missão na terra será nossa missão. Ele só fará aquilo que nós nos dedicarmos a mediar. Somos suas mãos, seus pés, sua boca, sua pessoa inteira. Se fizermos, a missão do anúncio e da implantação do Reino de Deus será feita. Se não, ele também não a fará, pois já fez a sua parte, partiu e nos incumbiu, dando-nos o seu Espírito.
Mas, o Espírito Santo, é assunto do próximo Eco da Palavra.
Foi ótimo "descobrir" seu blog! Através dele e do Eco da Palavra poderei ler suas homilias quando participar de missa celebrada por outro sacerdote. No sábado, às 19:00 horas, o padre Sebastião disse que, seguindo o ensinamento de Cristo, devemos levá-lo a todos. Mas não levar o Cristo que condena, que julga. Devemos levar o Cristo misericordioso, que aceita e perdoa. Para mim ficou sendo a mensagem central das Ascensão, para ser posta em prática todos os dias. Um abraço.
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