Páginas

terça-feira, 1 de maio de 2012

Eco da Palavra do IV Domingo da Páscoa (29/04/2012) – Jo 10,11-18

          A compreensão de Jesus como Bom Pastor marcou fortemente os discípulos das primeiras comunidades cristãs, a tal ponto de ser esta a primeira e mais antiga imagem de Jesus, pintada na sepultura de um cristão do primeiro século, em Roma, nas catacumbas de São Calixto. Não era o Senhor crucificado, nem mesmo ressuscitado, era o jovem Jesus com uma ovelha nos ombros: o Bom Pastor.

Todos os anos, o IV Domingo da Páscoa é dedicado a esta marcante figura. É o Domingo do Bom Pastor e Dia mundial de oração pelas vocações.

O evangelho proclamado (Jo 10,11-18) apresenta-nos duas característica marcantes que nos fazer identificar o Bom Pastor:


a)    Ele conhece as suas ovelhas e elas o conhecem (Jo 10,14b) e

b)   Ele dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,11b).

É consolador saber que nós, ovelhas do rebanho de Cristo, somos por ele conhecidas. Ele chama-nos pelo nome, conhece a cada um de nós, sabe das nossas mazelas, feridas, necessidades e também virtudes, capacidades etc. O Bom Pastor conhece as suas ovelhas. Mas, há nesta primeira característica um outro detalhe que toca-nos diretamente: as suas ovelhas o conhecem. Será que somos nós essas ovelhas que conhecem o Bom Pastor? Será que podemos dizer com segurança que conhecemos a Jesus Cristo?

Olhando para a experiência do convívio entre o pastor e suas ovelhas percebe-se que há algo que é prioritário no conhecimento do pastor pelas suas ovelhas. Elas conhecem, antes de tudo, a sua voz. A voz do Pastor é a guia inconfundível das ovelhas. As ovelhas são guiadas pela audição. Ao ouvir várias vozes, as ovelhas sabem exatamente e sem titubear qual é e pra onde conduz a voz do seu pastor. Será que nós conhecemos a voz de Cristo? Será que, em meio a tantas vozes, reconhecemos qual é e pra onde nos guia a voz do Bom Pastor?

Creio que ainda temos uma longa tarefa pela frente: afinar os nossos ouvidos à voz do único Bom Pastor, Jesus Cristo. Precisamos, num mundo tão cheio de vozes a querer confundir as ovelhas de Cristo, ter segurança da voz do pastor, saber reconhecê-la no meio da multidão e saber com clareza pra onde ela nos guia. Nesta tarefa, penso que duas atitudes podem nos ajudar a afinar nossos ouvidos à voz do Pastor:

a)    Intimidade com a Palavra: é preciso conhecer a Palavra de Deus, a Bíblia; criar intimidade com ela, fazer dela nossa companhia cotidiana na leitura, meditação, oração e contemplação, nos círculos bíblicos, na audição atenta da Palavra na missa cotidiana etc. Sabendo o que diz o Bom Pastor, saberemos quando ele nos diz. Conhecendo o que ele diz, reconhecermos inconfundivelmente a sua voz;

b)   Silêncio: num mundo de tanto barulho, de tantas imagens, de tantas vozes a solicitar a nossa atenção, faz-se necessário o silêncio. Silêncio exterior (da boca e dos ouvidos), sim, pois ele é necessário, mas sobretudo silêncio interior (do coação, da alma), ao qual nos conduz o silêncio exterior. O profeta Elias nos alerta que Deus passa na brisa suave e não no trovão ou na tempestade (cf. 1Rs 19,11). Se não houver em nós o silêncio, Deus passará e nós sequer ouviremos a sua voz, porque “ele não grita, nem levanta a voz” (Is 42,2).

A segunda característica é que o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Não tira-lhes a vida, mas dá a sua vida para que elas tenham vida. Ao contrário do mercenário que as abandona e deixa-as à merce do lobo. De novo reconhecemos indubitavelmente a Jesus Cristo como nosso Bom Pastor, pois ele deu a sua vida por nós. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular” (Sl 117(118), 22).

A pedra angular é aquela que se encaixa perfeitamente no cimo do arco pleno, típico dos romanos, e ali colocada dá segurança, sustento ao arco que permanece inabalável, desde que não se retire a pedra angular, o que faz com que todo o arco venha abaixo.

Jesus, rejeitado pelos homens, tornou-se o fundamento da nossa salvação. Sem ele, o arco da história humana não se sustenta, não fica de pé, pois se vivemos é por ele que vivemos, pois ele morreu quando nós deveríamos morrer e morreríamos pelo pecado. Se ele não tivesse dado a sua vida por nós, nós não estaríamos vivos, aqui, para compor o arco da nossa história, história de salvação. E nessa história fomos por ele, pelo Filho, tornados filhos. É assim que ele nos salva, inserindo-nos por sua graça na sua filiação divina. Somos “filhos no filho” (cf. Ef 1,5). “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1 ). Somos filhos de Deus porque participantes, pelo Batismo e pelos outros sacramentos no seu mistério Pascal, na entrega da sua vida por nós.

Portanto, irmãos caríssimos, empenhemo-nos em conhecer o Bom Pastor e sua voz que nos conduz “às verdes pastagens” (Sl 22,2) e vivamos com ele na entrega da nossa vida, na doação, vencendo todo egoísmo e egocentrismo, para assim, participarmos ainda mais do seu Mistério Pascal.

Um comentário:

  1. Muito bom padre Jean, é muito bom mesmo de longe saber um pouco através das suas sábias palavras...

    ResponderExcluir