Este domingo, agora chamado «Domingo da Divina Misericórdia», era outrora chamado «Domingo branco» (domingo in albis) devido ao fato de que era precisamente neste domingo, oito dias depois da Páscoa, que os neófitos, aqueles que foram batizados na vigília pascal e nela receberam a veste branca, a veste batismal, voltavam à celebração comunitária para tirá-la e assim, serem entregues pela comunidade cristã ao mundo, onde deveriam, a partir de então, viver como cristãos no meio do mundo e ser fermento do Evangelho no meio da massa.
É por este motivo que a Liturgia da Palavra deste dia vem nos alertar, como a crianças que aprendem a andar pela rua, sobre os perigos do mundo, sobretudo sobre o perigo de afastar-se da comunidade dos crentes, aquela que nos deu a fé e no-la mantem.
No Evangelho (Jo 20,19-31) ouvimos a história do apóstolo Tomé que, no processo da paixão, escandalizado pela cruz do sofrimento e do aparente fracasso do mestre Jesus de Nazaré afastou-se dele e também do grupo dos seus seguidores, de modo que no dia da ressurreição, quando Jesus ressuscitado apresentou-se aos apóstolos, Tomé lá não estava.
É importante perceber aqui a atitude dos apóstolos, pois o verdadeiro encontro com o Ressuscitado não nos deixa parados, acomodados, inertes, mas suscita em nós iniciativas como aquela dos apóstolos de ir ao encontro de Tomé para comunicar-lhe com toda convicção: «Nós vimos o Senhor» (Jo 20,25), o que quer dizer «Nós encontramos o Senhor» (cf. Eco da Palavra do V Domingo da Quaresma).
Quantos irmãos nossos afastaram-se da comunidade dos crentes, já não se encontram mais conosco no dia da ressurreição, o domingo, reunidos em comunidade para o encontro com Jesus? E nós, o que fazemos? Vamos, como os apóstolos, ao encontro eles? Mas, será que nós podemos afirmar, será que temos a convicção de que nas nossas comunidades cristãs, ao nos reunirmos para celebrar «nós encontramos o Senhor»? É esse testemunho de convicção que traz Tomé de volta, muito embora ele já esteja em pleno processo de perda da própria fé. Também os nossos irmãos que se afastam da comunidade dos discípulos entram nesse processo de progressiva perda da fé e busca de provas, de realidades palpáveis e cientificamente vericáveis que justifiquem as sua atitudes. Se temos ao nosso favor a ciência ou experiência empírica (dos sentidos), não precisamos da fé. Não a temos mais se nossos argumentos são os da ciência ou da experiência apenas.
Mas, a convicção dos irmãos e irmãs que permanecem no encontro fiel com o Senhor Ressuscitado, testemunhada no ato de ir atrás daquele que se afastou é capaz de trazê-lo de volta. Não de volta para nós, mas de volta para o Senhor com quem nos encontramos a cada domingo, a cada eucaristia, a cada experiência de oração e de encontro com a Palavra de Deus. E o resto fará o Senhor…
A nós compete ter duas atitudes:
1) Crer sem ter visto, pois são estes os bem-aventurados da única bem-aventurança de Jesus Ressuscitado: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29) e transformar esse ato de crer em convicção de fé que nos leva ao encontro dos mais afastados;
2) E cuidar de jamais afastarmo-nos da comunidade dos discípulos, da Igreja, lugar do encontro que sustenta a nossa fé e não nos deixa perder a convicção e partir para outras seguranças senão aquela que vem da Palavra, do testemunho crível de Deus.
Peçamos, pois com Tomé, pois todos somos um pouco incrédulos: Meu Senhor e meu Deus, eu creio, mas aumentai a minha fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário