Quando a Igreja nos manda
“participar da Santa Missa todos os domingos e dias santificados” (e esse é o
primeiro mandamento da Igreja, hoje tão esquecido!) ela não tem outro interesse
senão o que de que vivamos em plenitude os mistérios de Cristo celebrados em
cada domingo como que em lições subsequentes, de modo que se perdemos uma,
teremos dificuldade para compreender as seguintes. Viver fiel e intensamente o
Ano Litúrgico é mergulhar no mistério de Cristo e deixar-se transformar por
ele.
Digo isso, hoje, porque com a
Solenidade de Pentecostes coroamos o Mistério Pascal e Deus se torna conhecido
em nós na plenitude da sua revelação: já conhecemos o Pai, nosso criador, somos
obra de suas mãos e tudo o que existe no mundo criado revela a sua grandeza; já
conhecemos o Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor e salvador, pois há 50 dias
celebramos a sua paixão, morte e ressurreição; hoje nos é dado conhecer o
Espírito Santo, aquele mesmo Espírito que pôs ordem ao caos da criação, que animou
Jesus na sua missão salvadora e que agora é dado a nós, Igreja como
santificador.
São João tem uma forma toda
própria de falar da vinda do Espírito Santo.
Enquanto
São Lucas situa a vinda do Espírito Santo no 50º dia depois da Páscoa, como
ouvimos na 1ª leitura dos Atos dos Apóstolos (2, 1-11), quando os judeus já
celebravam outra festa, chamada de Pentecostes, na qual apresentavam a Deus, em
atitude de gratidão, as primícias de suas colheitas; São João faz questão de
ligar profundamente o Espírito a Jesus, morto e ressuscitado, por isso
São João registra dois momentos especiais nos quais Jesus dá “o seu
espírito” à Igreja. O primeiro é no calvário, quando o Evangelho de São
João relata que um oficial transpassou o lado de Jesus e “do seu lado aberto
saiu sangue e água” (cf. Jo 19,34). Para o evangelista, Jesus dá o seu Espírito
à Igreja por meio dos sacramentos, aqui representados na Eucaristia (sangue) e
no Batismo (água). O segundo é o que ouvimos no evangelho de hoje (Jo 20,
19-23) quando Jesus ressuscitado sopra sobre os seus apóstolos e os envia numa
dupla missão: anunciar o evangelho e perdoar os pecados, ou seja, pregar em
vista da salvação.
Olhemos
com atenção para o gesto de Jesus: Ele sopra sobre os apóstolos. Com isso São
João quer nos mostrar que o Espírito é o hálito de Jesus. E o que é o hálito? É
o sopro vital, é a vida. Os antigos quando queriam certificar-se da morte de
alguém punha-lhe um espelho à frente da boca, pois se o espelho se esfumaçasse,
o que significa que ainda havia hálito naquela pessoa, isso lhes daria a
certeza, mesmo que a aparência fosse contrária, de que ali havia vida. O
Espírito é, portanto, o hálito de Jesus, a sua própria vida que nos é dada para
que seja doravante a nossa vida.
São
João tem ainda uma outra informação importante acerca do sopro. Ele conhece o
livro do Gênesis e sabe que quando o autor sagrado diz que “o Espírito de Deus
pairava sobre as águas” (1,2) ele usa a palavra hebraica “huah” para
designar o Espírito. E “huah”, em hebraico é hálito. O que pairava,
portanto, sobre as águas, sobre o caos para ordenar a criação era o hálito de
Deus, o Pai Criador. Ao fazer Jesus soprar sobre os apóstolos, São João está
nos ensinando a profunda comunhão que há entre o Pai, o Filho e o Espírito
Santo, sopro vital do Pai e do Filho.
Mas,
a Santíssima Trindade é a lição do próximo domingo. Deixemo-la para lá e
voltemos ao Espírito Santo.
Dentre
suas muitas funções o Espírito Santo é dado a cada fiel no
batismo, para realizar nele a obra da santificação pessoal, ou seja, ele é
aquele que põe ordem ao nosso caos interior em vista da nossa salvação.
O
Espírito Santo é dado à Igreja como guardião da sua unidade. É
ele o cimento que nos une no único corpo de Cristo, a Igreja e assim torna o
nosso testemunho credível.
O
Espírito Santo nos é dado para levar ao mundo a boa nova do
Evangelho, para que o mundo creio e encontre em Jesus Cristo a salvação e a
paz.
Portanto, quem hoje, nesta solenidade de Pentecostes celebra com a
Igreja, esta a pedir: “Vinde, Espírito Santo, como vieste sobre os apóstolos
reunidos com Maria no Cenáculo, em Jerusalém”. Mas dizer isso é um risco. Que
assim reza deve estar disposto a deixar-se transformar interiormente, deve
estar disposto a unir-se inseparavelmente ao corpo de Cristo, a Igreja e deve
estar disposto a ser arrancado do comodismo e lançado na ceara do mundo como um
missionário a anunciar o Reino de Deus.
Nossa quanta riqueza posso extrair desta reflexão que permeia os caminhos percorridos por Jesus e abarca nosso cotidiano... Receber o Espírito Santo é comprometer-se, é ser missionário no Reino e para o Reino.
ResponderExcluirQuero e preciso pedir “Vinde, Espírito Santo, como vieste sobre os apóstolos reunidos com Maria no Cenáculo, em Jerusalém”.
ResponderExcluirAmém.