O «Credo
Niceno-Constantinopolitano» contém várias expressões relativas à divindade de
Jesus Cristo, o Filho, a Segunda Pessoa da Trindade, como mostram as reflexões
anteriores (cf. catequeses 8 a 11). No Concílio realizado em Niceia, no ano 325
d.C., introduz-se no «Credo» uma nova terminologia, que pretende estabelecer
uma distinção muito clara entre «gerado» e «criado». Daí resultou a expressão
atribuída a Jesus Cristo quando proclamamos o «Credo»: «gerado, não criado».
Para ajudar a
compreender melhor, leia:
- Salmo 2;
- Catecismo da
Igreja Católica, 238-242.
«Tu és meu filho, Eu hoje te gerei»
É uma frase
original do Salmo 2, que o Novo Testamento e a tradição cristã utilizam para se
referirem a Jesus Cristo; e desta forma atestam a geração do Filho, a Segunda
Pessoa da SS. Trindade. O Salmo 2 está relacionado com a entronização do rei;
utiliza o termo «filho» em sentido figurado aplicado ao rei. Para o salmista,
no dia da sua entronização, o rei era «gerado» por Deus. Vários exegetas
explicam este versículo dizendo que «eu hoje te gerei», quer dizer «neste dia
eu te designei para seres ungido como rei». Assim, de acordo com esta
interpretação, estabelecia-se uma relação direta entre a realeza e a divindade.
Digamos que, para o povo bíblico, o rei não era apenas uma escolha humana, mas
também uma eleição divina. O profeta Natan, quando da revelação das promessas
de Deus a Davi, usa uma terminologia idêntica: «eu serei para ele um pai e ele
será para mim um filho». Também esta expressão será retomada pelo autor da
Carta aos Hebreus (1, 5) para aplicá-la a Jesus Cristo. A citação do Salmo 2 —
«Tu és meu filho, Eu hoje te gerei» — é aplicada a Jesus Cristo por três vezes
no Novo Testamento: uma no livro dos Atos dos Apóstolos (13, 33); e duas na
Carta aos Hebreus (1, 5; 5, 5).
Esta frase
aplicada a Jesus Cristo tem sido relacionada, pela tradição cristã, com
momentos diferentes da vida do Filho de Deus. Alguns referem-na unida à
Encarnação; outros ao Batismo, no Jordão; outros à Ressurreição; outros à
Ascensão; outros à própria afirmação de Filho de Deus. Todas estas ligações não
se opõem e, por isso, são válidas. E, em qualquer caso, não contradizem, antes
contribuem para dar sentido ao que estamos a refletir: Jesus Cristo é Deus,
gerado pelo Pai e não resultado do ato criador.
Gerado, não criado
Gerado, não criado
Esta afirmação
é consequência das reflexões provocadas no Concílio de Niceia (325 d.C.). No
contexto da divindade de Jesus Cristo, nesse Concílio, dá-se destaque, pela
primeira vez, à distinção entre geração e criação. Perante doutrinas que
pretendiam afirmar o contrário, o Concílio afirma que Jesus Cristo faz parte de
Deus. Ele não é criado por Deus. O Filho é gerado pelo Pai. Através do uso
destes dois termos — gerado e criado — estabelece-se a distinção entre a
criação «de todas as coisas visíveis e invisíveis» (cf. catequeses 5 e 6) e a
geração do Filho no «seio» do Pai. É claro que esta linguagem não é exata para
expressar a realidade de Deus (e da Trindade). É, como todas as linguagens
humanas, uma aproximação possível ao indizível que é Deus. O uso do termo
«gerado» está intimamente relacionado com a expressão anterior do «Credo»:
«nascido do Pai antes de todos os séculos» (cf. catequese 9). A esse propósito
relembramos a reflexão de Sto. Hilário de Poitiers: «Se alguém quiser zangar-se
com a sua própria inteligência por não conseguir compreender o mistério dessa
geração, que saiba, pelo menos, que eu também sofro ainda mais que ele por o
ignorar. Não sei, mas não me inquieto...». A distinção entre a geração do Filho
e a criação do universo é decisiva para compreender a identidade de Jesus
Cristo: «o Filho está do lado de Deus que cria, é a Sua Palavra, o Seu Verbo,
eterno como Ele. [...] A verdadeira aposta destas primeiras reflexões da Igreja
sobre a identidade de Jesus consiste em perceber que a filiação não é, de per
si, uma inferioridade. ‘Vir de’, ‘tender, ir para’, é uma relação. E, para
Cristo, não é uma relação acrescentada ao que Ele é, como as relações que
podemos adquirir. Esta relação de origem e de vocação (o Filho vem do Pai e vai
para o Pai) constitui-O, é o Seu próprio ser. [...] O Pai a quem o Novo
Testamento continua a dar como próprio o nome de Deus, é também relacional. Se
não há Filho sem Pai, também não há Pai sem Filho. [...] Esta interdependência
não é inferioridade, mas partilha e comunhão» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon,
J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro, Porto 1993,69).
A divindade de
Jesus Cristo, o Filho, nada tira à divindade do Pai. Pelo contrário, revela a
própria natureza divina que é relação e comunhão interpessoal: o Filho é
«consubstancial ao Pai».
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
(adaptado do www.laboratoriodafe.net)
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