Comecemos por perceber que apenas três datas de nascimento
são celebradas no calendário litúrgico:
1) O nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Solenidade
do Natal, a 24 de dezembro;
2) O nascimento da puríssima Virgem Maria, a 08 de setembro,
exatamente 9 meses depois da sua Imaculada Conceição (concepção), a 08 de
dezembro;
3) E o nascimento do precursor, S. João Batista, que hoje
celebramos, a 24 de junho, 6 meses antes da solene noite do Natal do Senhor
Jesus, pois o anjo, ao anunciar a sua concepção virginal do Verbo de Deus,
avisou Maria que sua prima Isabel, a mãe de João já estava no sexto mês de
gravidez (cf. Lc 1, 26.36).
Todos os outros santos são celebrados na data de sua morte,
ou seja, do seu nascimento para a eternidade, onde vivem e recebem o prêmio da
sua vida terrena. Esta data será também celebrada no que diz respeito a S. João
Batista, em 29 de agosto, festa do Martírio de S. João Batista, decapitado por
causa da sua profética pregação.
Notemos, pois, que o evangelho que ouvimos está centrado na
questão do nome dado ao menino concebido na velhice de Isabel e Zacarias. Este,
por não crer na promessa de Deus e duvidar do seu poder ficou mudo durante toda
a gravidez de sua esposa e até o momento da circuncisão ainda não falava. Por
isso, os membros da sinagoga impedidos de serem informados pelo pai da criança
o nome que ela deveria receber, “queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias”
(Lc 1, 59). Contudo, algo inédito acontece, uma mulher, Isabel, a mãe da
criança toma a palavra dentro da sinagoga, o que era proibido às mulheres e
afirma: “João é o seu nome” (Lc 1,60). A princípio os homens da sinagoga não
aceitam a intervenção feminina, mas perguntam ao pai que lhes responde por
escrito, numa tabuinha, confirmando: “João é o seu nome” (Lc 1,63).
Porque essa insistência no evangelho quanto ao nome do
menino?
Sabemos que na Sagrada Escritura o nome não é simplesmente
um modo de chamar ou identificar alguém. O nome na Sagrada Escritura é portador
da missão da pessoa. “Simão, tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja” (Mt 16,18).
Então precisamos perceber qual é o significado e a missão de
João. João significa “Deus é misericordioso”, “Deus se compadece”. Portanto,
esse é o nome e a missão de João, ser sinal e presença de Deus misericordioso
que se compadece do mundo.
Mas, se observarmos a missão realizada por João Batista e
sua pregação, parece-nos que ele tem muito mais a ver com a justiça de Deus do
que com sua misericórdia. João é um grande sinal do Deus justo, que tem “o
machado posto à raiz da árvore e que cortará toda árvore que não der bom fruto”
(Lc 3, 9). E diz aos que se aproximam dele para receber o batismo de conversão:
“Víboras que sois, quem vos ensinou a querer fugir da ira que está para chegar?
Atualmente, temos o vício de opor a Justiça à Misericórdia e
por isso enganamo-nos achando que o pregador da justiça não corresponde ao seu
nome e á sua missão a serviço da misericórdia. Mas, precisamos compreender que
em Deus não há nenhuma oposição ou contradição entre justiça e misericórdia.
Deus justo em sua misericórdia e misericordioso em sua justiça. Ou seja, ele
aplica a sua justiça em vista do seu desejo misericordioso de nos salvar
eternamente e é misericordioso, ao aplicar a sua justiça. É como um pai que ao
ver o seu filho caminhar rumo à destruição, empenha-se com vigor na correção e,
se preciso, no castigo do filho, mas sem nunca perder de vista o bem último, a
salvação do filho, que é o motivo do exercício da sua justiça que pode parecer
dura, mas é misericordiosa.
S. João Batista, o precursor, ao receber por nome a
misericórdia e exercer a missão da justiça apresenta-nos a necessidade da
conversão para recebermos o Cristo, nossa salvação.
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