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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eco da Palavra – V Dom. da Páscoa (22/05/2011) – Jo 14,1-12

A primeira pergunta que me fiz quando me deparei com esse texto na liturgia do 5º Domingo da Páscoa foi a seguinte: porque voltar ao contexto da última ceia se já estamos na Páscoa?
Explico: os capítulos 13, 14, 15, 16 e 17 do evangelho de São João descrevem aquilo que aconteceu na última ceia. E o evangelho de hoje está precisamente no capítulo 14.
A resposta está na afirmação inicial de Jesus: “Na casa do meu Pai há muitas moradas. (...) Vou preparar-vos um lugar” (Jo 14, 2).

Para compreender bem o Mistério Pascal
Nós corremos o risco de compreender o mistério pascal apenas pela metade. Entender que trata-se da paixão, morte e ressurreição de Jesus e pronto. Sim, isto é o mistério pascal. No entanto, há outro lado deste mistério. É a nossa paixão, morte e ressurreição.
A garantia de Jesus de que nenhum de nós ficará sem lugar na casa do Pai é também a afirmação de que nenhum de nós tem casa permanente nesta vida. Aqui, na terra, somos peregrinos, transeuntes, estamos acampados em tendas, à procura da morada definitiva.
São Paulo diz isso: “Sabemos que se a nossa habitação terrena, esta morada em que vivemos, for dissolvida, possuímos uma casa que é obra de Deus, uma eterna morada nos céus, que não é feita pela mão humana” (2Cor 5,1).
Desta forma, temos que tomar consciência do todo do mistério da Páscoa: “Cristo ressuscitou e nós com Ele, aleluia”, diz a música.
Celebrar a Páscoa – e é o que estamos fazendo há cinco domingos – é celebrar a nossa participação na paixão, morte e ressurreição de Jesus. Com Ele e como Ele, nós também sofremos, morreremos e ressuscitaremos. Ninguém de nós ficará para traz.

Ou viver sem a páscoa
Corremos o risco de viver negando esta verdade de nossa fé. E nossa cultura pós-moderna, consumista, hedonista tenta impregnar em nós esse modo de viver sem a páscoa.
Primeiro, negando a ressurreição: dizendo que a morte é o ponto final de nossa existência, que não vida após a morte etc. Ou até mesmo negando a própria morte: quantos há que vivem como se fossem super-homens e super-mulheres, arriscando a vida sem motivos que ultrapassem uma dose de adrenalina no sangue? Somos todos mortais, e morreremos, mas também ressuscitaremos com Cristo.
Depois terceirizando a morte. Há pessoas quem nem mais enterrar os mortos querem. Deixam seus entes queridos nos hospitais e lá mesmo já contratam os serviços funerários solicitando que, depois do enterro, avisem a família do falecimento. Levar para casa, velar o morto, viver a saudável experiência da perda é cada dia mais raro. Resultado: vivemos longe da morte e como se nunca fôssemos morrer. Idolatramos a vida! E por isso, não somos mais capazes do sofrimento, da dor, da privação... acabamos adeptos do desespero.

Muitas moradas e um só caminho
Voltando à afirmação de Jesus: “... há muitas moradas” (Jo 14,2) e um só caminho – “eu sou o caminho (...) ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).
Se queremos habitar as moradas preparadas pelo Filho na casa do Pai, é preciso andar pelo caminho que é o próprio Filho, Jesus.
E o primeiro modo de andar por esse caminho é a Fé: “Credes em Deus, crede em mim também” (Jo 14,1). Fé não é apenas acreditar, é tornar-se aquilo que se crê. Fé é adesão. Aderir é assumir a forma daquilo em que se adere. A fé que nos pede Jesus é configuração a si, é tornarmo-nos como Ele.
E isso nós fazemos por meio do segundo modo de andar pelo caminho: “As palavras que eu digo, eu não as digo por mim mesmo (...) é o Pai que permanencendo em mim realiza as suas obras (...) e se não credes na minha palavra, crede, contudo, por causa destas obras” (Jo 14,10-11). A Palavra, em sua função performática é a grande força capaz de nos configurar a Cristo. Ouvir, ler, orar, meditar, contemplar, partilhar, comentar e anunciar a Palavra são atitudes capaz de nos tornar “outros Cristos” no mundo, realizando as obras que Ele fez.
Esse é o terceiro modo: “aquele que crer em mim, fará também as obras que eu faço e fará ainda obras maiores” (Jo 14,12). Realizar as obras de Jesus. O problema é que ficamos querendo curar os cegos, fazer andar os coxos, ressuscitar os mortos e não começamos pelo começo: acolhendo como Jesus acolheu, sendo misericordiosos como Jesus é misericordioso, sorrindo como Jesus sorriu, andando pelo meio do povo, sem reservas ou preconceitos, como Jesus andou etc.
Hoje temos o testemunho da Beata Dulce dos Pobres. O que fez esta bem-aventurada religiosa? Andou pelo meio dos pobres, recolheu os doentes num mercado velho, sob as arcadas da Igreja do Bonfim e por fim no galinheiro do convento. Começou pelo começo: configurou-se a Cristo por meio das mais simples e corriqueiras atitudes.
Essa é a nossa tarefa, se queremos chegar, pelo único caminho, às muitas moradas da casa do Pai.
Pe. Jean Poul
Varginha/MG
25/05/2011

Um comentário:

  1. participei neste domingo em sua paróquia da missa das 17:00hs, já tinha então ouvido essa explicação , muito obrigada pela forma de colocar tão bem as citações e as situações dentro do propósito, a páscoa, sim vivemos na esperança de viver na expectativa do céu , que preparemos bem nossa morada eterna.

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