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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eco da Palavra – IV Dom. da Páscoa (15/05/2011) – Jo 10,1-10


Neste texto Jesus conta uma parábola em dois atos. Primeiro, ele afirma que suas ovelhas conhecem a sua voz, escutam-na e seguem-no. No segundo ato, motivado pelo fato de os judeus não compreenderem o que ele fala, Jesus se afirma “a porta das ovelhas”.
Comecemos o nosso Eco da Palavra, pela segunda parte.
Para compreendê-la precisamos compreender a atividade pastoril em Israel, no tempo de Jesus.

A prática pastoril em Israel
De início, pensemos que Israel não possuía uma terra verde como a do Brasil. Lá, encontrar pastagem exige do pastor caminhadas longas à frente do rebanho até a relva verde capaz de alimentar as ovelhas, o que, geralmente, não está próximo dos povoados.
Por isso, fala-se do redil. O redil era um cercado de pedras amontoadas em forma de pequenas paredes, muitas vezes redondo, e com apenas uma abertura, sem porta ou porteira.
Ao entardecer, os pastores que estavam distantes de suas casas, recolhiam seus rebanhos dentro do redil a fim de que passassem a noite em segurança. Eram vários rebanhos, de vários pastores dentro do mesmo redil.

Eu sou a porta das ovelhas
Um dos pastores era sorteado ou escalado para deitar-se naquela abertura e ali passar a noite, sendo “a porta das ovelhas”, garantindo assim a segurança das mesmas contra os lobos e os assaltantes.
Ferir e dispersar as ovelhas, só mesmo ferindo antes o pastor que era a porta. Sair do redil, separar-se do rebanho, somente passando por cima do pastor.
Enquanto isso, os outros pastores dormiam tranquilos em tendas armadas próximas ao redil.
Foi numa dessas noites que o anjo do Senhor anunciou aos pastores o nascimento do Salvador (cf. Lc 2,8 ss), o Bom Pastor, aquele que daria a sua vida para que não se dispersasse o rebanho, aquele que plenamente realizaria a missão de ser “a porta das ovelhas”, não permitindo que o lobo ou o assaltante levasse ovelha alguma que lhe fora confiada. “Não perdi nenhum daqueles que me deste” (Jo 18,9).
É por isso, por sua plena doação, que é a nossa salvação, que precisamos ouvir e conhecer a sua voz. É a lição do primeiro ato da parábola.

Minhas ovelhas escutam a minha voz
Pela manhã, logo ao alvorecer, os pastores retomavam seus rebanhos no redil, para em mais um dia ir à procura de “pastagens verdejantes” (Sl 22, 2).
Mas, como separar os rebanhos se todas as ovelhas se juntaram e se misturaram à noite no redil? Soltá-las todas seria perigoso. É aí que entra o relacionamento entre pastor e ovelha: “ele as chama cada uma por seu nome, e as leva para fora”, porque “conhecem a sua voz”. Ao pastor cabe conhecer as ovelhas pelo nome, na sua individualidade, que não é apenas aparência, mas essência. Às ovelhas cabe conhecer a voz do pastor. É este conhecimento que as faz sair e seguir, confiantemente, o pastor.
Aqui está, me parece, um dos grandes desafios do nosso tempo: discernir a voz do pastor. Será que nós, hoje, sabemos distinguir com rapidez e perfeição quando é o pastor a nos chamar, quando é o lobo ou o assaltante a imitar a voz do pastor a fim de devorar-nos e dispersar-nos do rebanho? Em tempos tão complexos e controversos, quando assistimos a tantas notícias, recebemos tantos convites e propostas, contemplamos tanta desigualdade, será que temos o correto discernimento do que seja a voz de Deus em nossa consciência, do que seja a proposta do mal, do mundo ou até de nós mesmos?

É preciso afinar nossos ouvidos e nossa consciência
E há só um modo de fazê-lo. Lembro-me de Maria Madalena, no jardim do sepulcro, na manhã da Páscoa: “ela se voltou e viu Jesus que estava ali, mas não sabia que era ele. Jesus lhe disse: “Mulher porque choras? Quem procuras?” Mas, ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: “Senhor, se foste tu que o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei”. Jesus lhe disse: “Miriâm”. Ela se voltou e lhe disse em hebraico: “Rabuni” (o que significa Mestre)” (Jo 20,14-16).
Eu imagino Maria Madalena exclamando: “Ninguém fala assim o meu nome! Só ele. É o mestre!” A ovelha reconheceu a voz do pastor. E porque reconheceu? Por que conviveu com Jesus. Naqueles três últimos anos ela não havia deixado de ouvir a voz de Jesus em nenhum só dia. Por isso, ela tinha certeza; por isso, o seu discernimento era veloz e certeiro, porque convivera com o Mestre.
Nós também, se queremos discernir com clareza a voz de Deus a nos chamar e nos conduzir às “pastagens verdejantes” (Sl 22,2) precisamos conviver com Jesus por meio da oração pessoal, especialmente no silêncio da oração quando ouvimos a voz de Deus; por meio da Leitura Orante da Palavra; na Eucaristia Dominical; na visita ao Santíssimo Sacramento; no cuidado com os irmãos enfraquecidos e debilitados, enfim, em tantas formas e possibilidades que temos de habituarmo-nos à voz do Bom Pastor, de modo que jamais sejamos confundidos.

Pe. Jean Poul
Varginha/MG
18/05/2011

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