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sábado, 25 de outubro de 2014

"Nossa vida está escondida com Cristo em Deus" (Col 3,3)



Há poucos dias celebramos a Festa do Batismo do Senhor Jesus, encerrando as festas do Natal. Ouvimos no relato evangélico como João Batista estranhou a presença de Jesus para ser batizado: "eu que preciso ser batizado por ti e tu vens a mim?" (Mt 3,14), mas ouvimos também a manifestação de Deus Pai: "Este é o meu Filho amado no qual pus toda a minha afeição" (Mt 3,17) e quase vimos o Espírito Santo descendo em forma de pomba para completar assim o testemunho que não nos deixa dúvidas: Jesus é o único Filho de Deus e se queremos ser filhos de Deus necessitamos ser enxertados em Jesus, o Filho.
Jesus, de fato, não precisava receber o batismo, pois desde sempre e para sempre Ele é o Filho de Deus. Nós é que temos essa necessidade, pois temos que nos tornar, por graça, aquilo que Jesus é por natureza. Pelo santo Batismo tornamo-nos filhos no Filho, somos enxertados em Jesus Cristo e passamos a ter em nós a sua seiva, a sua vida, o seu alimento, o seu espírito. O Batismo no entanto é apenas o começo. Depois, ao longo da vida, temos que nos tornar aquilo que somos para que na hora da nossa morte, Deus Pai encontre em nós, vazios de nós mesmos, a imagem do seu Filho amado e detentor de toda a sua afeição. Só somos amados por Deus à medida que nos tornamos membros de Cristo.

Por isso, o Batismo nos insere na Igreja que é o corpo místico de Cristo. Somos enxertados no corpo de Cristo que é a Igreja, ali onde recebemos os meios necessários para a vida em Cristo: o anúncio permanente da Palavra, os sacramentos, especialmente a Eucaristia, o perdão dos pecados por meio do sacramento da Reconciliação, o apoio fraterno dos irmãos e irmãs de fé, a caridade fraterna e a plenitude do Espírito de Cristo no sacramento da Confirmação, que é a culminância da Iniciação Cristã, iniciada no Batismo.
Assim, inseridos todos em Cristo e formando o seu corpo eclesial é que podemos dizer com propriedade "Pai-nosso..." e afirmar que temos verdadeira fé, pois eu, por mim mesmo, sou incapaz de crer e compreender tudo o que Deus revelou, mas quando o pouco que creio se une ao que creram todos os cristãos, desde os apóstolos, passando pelos mártires, pelos confessores, monges e monjas, itinerantes e missionários etc, podemos afirmar com toda a confiança "eu creio" porque "nós cremos".
Tudo isto que até agora refletimos aparece de forma simbólica na celebração do Batismo:
- Sinal-da-Cruz: ao princípio a criança é marcada com a cruz na fronte, como um selo que marca a pertença daquela criança ao corpo eclesial de Cristo, reunido ao redor do seu mistério pascal, cujo centro e sinal é a Cruz;
- Unção com o óleo dos catecúmenos: é um rito preparatório que sinaliza o nosso desejo de que a força salvadora de Cristo penetre em nossa vida como o óleo penetra em nosso corpo;
- Batismo, propriamente dito: o mergulho ou o derramamento de água e a invocação da Santíssima Trindade são o gesto fundamental do Batismo, pois contém o necessário para a sua validade, ou seja, a matéria (água) e a forma (invocação trinitária) e realiza sacramentalmente a nossa inserção naquele mesmo novo Batismo inaugurado por Cristo no Jordão e consumado na sua morte e ressurreição, do que nos tornamos partícipes pelo Batismo;
- Unção com o Crisma: Jesus é o Cristo, o Ungido. Quando somos batizados, tornamo-nos ungidos, cristãos, participantes da sua mesma unção. Desce sobre nós o mesmo Espírito que desceu e permaneceu sobre Ele;
- Veste branca: pelo batismo somos revestidos de Cristo, não mais aparece em nós para Deus as vergonhas do nosso pecado, mas o seu Único e Amado Filho;
- Vela acesa: é a luz da fé que deve iluminar o caminho do batizado desde o primeiro até o último dia da sua vida, ou seja, deve determinar os seus atos, as suas atitudes, as suas opções e decisões, desde as mais simples às mais complexas. Não é em vão que os antigos, na hora da morte, colocavam outra vez a mesma vela acesa nas mãos do moribundo.
Há outros sinais, o sal, o «éfata» etc, mas delongaríamos muito. Quero dizer uma última palavra sobre os padrinhos.
A vida biológica, esta vida terrena que começa com a fecundação e termina com a morte é gerada, cuidada, alimentada, mantida pelos pais que, enquanto o fazem, ensinam a criança a fazer por si mesma. A vida da graça, esta vida gerada por Deus nas águas do Batismo tem nos padrinhos os seus cuidadores. Vocês, padrinho e madrinha, são os pais da vida da graça. É vossa missão cuidar, alimentar, manter e ensinar a viver a fé, na Igreja, como membros de Cristo. Mas, como ensinar o que não se sabe? Como convencer do que não se crê? Como cativar para o que não se vive? Por isso, a missão dos pais na escolha dos padrinhos não se deve guiar por outro critério senão este: são cristãos exemplares e o seu exemplo servirá de testemunho para o meu filho na sua vida de fé.
Termino, lançando a você leitor um desafio: estamos quase por começar o ciclo pascal (quaresma, semana santa e páscoa) e neste ano A, a liturgia da Palavra dos domingos do ciclo pascal são eminentemente batismais (veja a ilustração deste artigo). Se você quer aprofundar o sentido e a razão do seu Batismo, não falte à missa dominical e medite, sob a luz da Palavra proclamada, nesse grande mistério que envolve a nossa vida.

Pe. Jean Poul Hansen -
Salamanca, 27 de janeiro de 2014,
Memória do grande bispo de Milão, Santo Ambrósio,
mestre espiritual que conduziu ao Batismo outro grande cristão, Santo Agostinho.

Artigo originariamente publicado no Informativo Paroquial «A voz do coração»,
da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, de Três Corações-MG.

Na ilustração, os desenhos são do amigo Luis Henrique Alves Pinto.

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