A primeira
afirmação de fé, no «Símbolo Niceno-Constantinopolitano», é «Creio em um só
Deus». Fica bem claro que acreditamos num único Deus ou num Deus uno, «um só
Deus». Mas o Deus que Jesus Cristo nos revela não é também Trindade?! Não são
três as pessoas divinas?! Hoje, vamos tentar ajudar a compreender, ou melhor,
vamos aprender a acolher, pela fé, esta realidade divina: «um só Deus».
Para ajudar a
compreender melhor, leia:
- Êxodo 3, 13-15;
- Catecismo da Igreja Católica, números 198 a 231
«Eu sou Aquele que sou»
É a resposta
que o próprio Deus comunica a Moisés, quando é questionado sobre o seu nome,
sobre a sua identidade. «Eu sou Aquele que sou» indica que Deus só pode ser
único. «O texto põe esta frase na boca de Deus, mas as definições dadas pelo
próprio Deus são tão difíceis de traduzir como de compreender. Em resumo,
podemos guardar três interpretações: Eu sou quem sou, isto é, [...] sou
demasiado grande para ser contido num nome ou definido por palavras; Eu sou
Aquele que é, isto é, sou o único Deus que existe realmente [...]; Eu sou quem
será, isto é, vós descobrireis quem Eu sou, vendo as minhas manifestações no
meio de vós» (AA. VV., «A fé dos católicos», Gráfica de Coimbra, Coimbra 1991,
187). No meio de povos onde reinava o politeísmo, destaca-se uma família, a
quem a tradição judaica e cristã chama de «Patriarcas»: Abraão, Isaac e Jacob.
«Assim dirás aos filhos de Israel: ‘O SENHOR, Deus dos vossos pais, Deus de
Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós: este é o meu nome para
sempre, o meu memorial de geração em geração» (Êxodo 3, 15).
A fé de Abraão
A tradição
bíblica indica Abraão como o primeiro a confiar num Deus único. Mas os escritos
que se referem a Abraão são muito posteriores aos acontecimentos relatados. Os
dados históricos situam a elaboração do livro do Gênesis no tempo de Salomão,
quando Israel já se encontra constituído como povo e com um território. Um dado
é certo: a memória coletiva do povo de Israel acolhe Abraão como «nosso pai na
fé». Aliás, este personagem bíblico é aceite pelas três grandes religiões
monoteístas (acreditam num Deus único): judaísmo, cristianismo e islamismo.
Abraão é o «pai dos crentes», porque tem plena confiança nas promessas de Deus,
porque obedece à palavra de Deus, porque conhece Deus presente nos acontecimentos
da vida. Abraão, quer nos momentos de felicidade, quer nos momentos de prova,
acredita e confia contra toda a esperança.
Em um só Deus
«Hoje, a coisa
mais difícil parece ser precisamente ‘crer em Deus’. De fato, por um lado
sentimo-nos remetidos para Deus e para o seu mistério [...]. Mas, por outro,
vivemos frequentemente ‘como se Deus não existisse’. [...] Se refletirmos bem,
não é tanto Deus em si mesmo que constitui um problema para nós. É, sim, a
nossa ideia acerca dele - isto é, a imagem que dele fazemos e que, por vezes,
nos parece tão banal e infantil - e, ainda mais radicalmente, a nossa relação
pessoal com Ele. Ter fé não significa ter Deus na mão e tê-lo à nossa
disposição» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior
Velho 2005, 30). Quando afirmamos «Creio em um só Deus» não estamos a afirmar
que conhecemos tudo sobre Deus. Estamos a manifestar a nossa adesão pessoal ao
Deus bíblico plenamente revelado em Jesus Cristo. Acreditar, não significa saber
tudo sobre Deus. Tudo o que dissemos sobre Deus será sempre uma imagem
imperfeita da perfeição divina. Por isso, mais do que elaborar tentativas para
dizer quem é Deus, o crente acolhe, pela fé, a existência de Deus e aprende,
como Abraão, a descobrir a presença de Deus nos acontecimentos da vida. A fé
permite-nos abrir a nossa vida à presença de Deus. O crente deixa-se visitar
por Deus e aceita o convite para mergulhar na profundidade do mistério divino.
Ora, como diz Tertuliano: «O ser supremo tem necessariamente de ser único, isto
é, sem igual. [...] Se Deus não é único, não é Deus». O Catecismo da Igreja
Católica apresenta as consequências da fé em Deus único: reconhecer a grandeza
e a majestade de Deus; viver em ação de graças; reconhecer a dignidade de todos
os seres humanos; fazer bom uso da Criação, das coisas criadas; ter confiança
em Deus, em todas as circunstâncias. E conclui com a oração de Santa Teresa de
Jesus: «Nada te perturbe, nada te atemorize. Tudo passa, Deus não muda. A
paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta».
No próximo tema
vamos começar a refletir sobre a Trindade de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.
Grande e admirável mistério da nossa fé (cristã)!
"Eu sou aquele que sempre existiu!(Eu sou o SER por ESSÊNCIA,aquele que jamais poderá deixar de existir.)"
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