Eco da Palavra – III Dom. do TC (22/01/2012) – Mc 1,14-20

Estamos ainda no início do Tempo Comum (TC), o tempo maior e mais longo do nosso calendário litúrgico (34 semanas). Neste ano, o 1º Domingo do TC foi engolido pelo calendário, uma vez que duas grandes solenidades, o Natal (25/12) e Santa Maria, mãe de Deus (1º/01) caíram no domingo. O 2º Domingo do TC aqui em nossa paróquia, mesmo celebrado, perdeu a característica de Tempo Comum (ausência de festa), pois esteve dentro da Novena do Mártir São Sebastião, grande festa do nosso padroeiro. De tal forma, que nós estamos começando de fato o TC neste 3º Domingo.

E o evangelho deste domingo é mesmo como uma aula inaugural, introdutória. São Marcos (e evangelista deste ano B), com sua concisão própria, apresenta uma síntese do evangelho anunciado por Jesus. E, em seguida, relata a vocação dos quatro primeiros discípulos, tal como ouvimos no domingo passado, por meio do Evangelho de São João, que teceu detalhes do acontecido, pois, afinal estava contando a sua própria vocação. Para São Marcos são importantes os fatos (“Jesus passou” e “chamou”) e as atitudes (“eles imediatamente deixaram tudo e o seguiram”). Há, contudo um detalhe importante no chamado de Jesus: Ele valoriza a experiência daqueles homens. Vocês são pescadores? Então se tornem, e eu os farei, pescadores de homens, pescadores do Reino. A colaboração que Deus espera de nós não está baseada na negação de nossas potencialidades, de nossas experiências, de nossos saberes, pelo contrário o que Ele espera que nós coloquemos aquilo de fazemos de melhor a serviço do seu Reino.

Na primeira parte (VV. 14-16) há duas informações importantes:

1)                Quando foi que Jesus iniciou o seu ministério público, a sua pregação? Quando João Batista foi preso e decapitado (v. 14a).

2)               O que é que Jesus pregava? Aqui está o centro da liturgia de hoje. Jesus pregava dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”. São Marcos resume nessas quatro idéias toda a pregação de Jesus, como que num anúncio introdutório, pois o restante do Evangelho que ouviremos no restante do TC será o desdobramento dessas quatro idéias. Por isso, vamos compreendê-las:

a)                “O tempo já se completou”: isso não significa que o mundo vai acabar, como querem alguns, mas que tudo o que é necessário para a nossa salvação já desceu da eternidade ao tempo. Jesus é a plena revelação de Deus. A partir de Jesus (desde sua encarnação até a ascensão) nada mais precisamos esperar. Já temos tudo o que é necessário para alcançarmos a vida plena no céu. Tudo nos foi dado. O tempo se completou.

b)               “O Reino de Deus está próximo”: ajuda-nos a compreender essa realidade do Reino os textos que temos ouvido dos Livros de Samuel na leitura semanal. O Reino ou reinado é a forma de governo desejada pelo povo de Israel a contragosto de Deus. Contudo, Deus também passa a desejar um Reino de justiça, igualdade, paz, solidariedade ao ver que os reis de Israel não correspondem à sua vontade. O povo ainda mais deseja esse Reino. O Reino é a organização social desejada por Deus e inscrita no anseio mais íntimo do ser humano. Se por um lado já temos tudo o que é necessário para levar-nos para o céu (“o tempo já se completou”), por outro, em Jesus, temos também todo o necessário para vivermos neste mundo conforme a vontade de Deus, organizando a nossa vida, especialmente em suas dimensões política e social, conforme a vontade de Deus revelada plenamente em Jesus e seu evangelho.

c)                “Convertei-vos”: esse apelo é tão antigo e necessário quanto o pecado original. Por isso a liturgia desse domingo nos propõe ouvir o profeta Jonas que convoca a cidade pagã de Nínive à conversão e ao contrário de suas expectativas, converte-se antes mesmo do fim do seu ministério (Jn 3,1-5.10). É essa a esperança da Igreja: que antes de terminarmos de ouvir todo o ministério público de Jesus, ao longo do TC, nós também estejamos convertidos, fazendo penitência dos nossos pecados e conformando-nos à sua Palavra.

d)               “e crede no Evangelho”: é ao Evangelho que devemos nos converter. É ele a Palavra capaz de nos tornar verdadeiros discípulos de Jesus Cristo. Mas, para que isto acontece é necessária uma atitude de fé: acreditar verdadeiramente no poder dessa Palavra que nos transforma em seguidores de Jesus Cristo. É com esta atitude de fé que vamos ouvir fielmente toda a liturgia do TC e nos deixar transformar por ela, em discípulos missionários de Jesus Cristo.

Assim, concluímos esta aula introdutória, inaugural do TC: convocados à fé, a crer que a Palavra de Deus nos transformar naquilo que devemos ser seja neste mundo, construindo-o conforme a vontade de Deus, instaurando o seu Reino, seja na eternidade quando “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).