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domingo, 11 de novembro de 2012

Esta é a nossa fé — 4 — Todo-poderoso



A onipotência de Deus é caracterizada no Catecismo da Igreja Católica como universal, amorosa e misteriosa. Tudo isto está condensado no «Credo» na afirmação «todo-poderoso».
Para ajudar a compreender melhor, ler: 
         - 2Cor 6, 16b.18;
         - Catecismo da Igreja Católica, 268 a 278

«Serei para vós um pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso» — assim se expressa Paulo, na Segunda Carta aos Coríntios. A primeira verdade que temos de acolher é a seguinte: Deus é todo-poderoso enquanto Deus e enquanto Pai. Deus Pai está primeiro. Assim dizemos: «Deus Pai todo-poderoso». Por isso, a omnipotência de Deus tem de ser sempre interpretada a partir da paternidade. «Deus é o Pai todo-poderoso. A sua paternidade e o seu poder esclarecem-se mutuamente» (Catecismo da Igreja Católica, 270). 


         Onipotente, Todo-poderoso
A versão latina do «Credo» utiliza a expressão «omnipotentem» («omnia» significa «todo»; «potens» significa «poderoso»). Uma tradução literal também possível em português seria «onipotente». Em vez de traduzir por «Deus Pai todo-poderoso», também poderíamos dizer «Deus Pai omnipotente». Em qualquer dos casos, «para os nossos contemporâneos esta fórmula não é bem aceita. Até pode se objeto de dois tipos de crítica. Por um lado, nós opomo-nos à ideia de um Deus que demonstra uma onipotência sobre o ser humano; que liberdade permanece ao ser humano se Deus é onipotente? Por outro lado, verificamos que Deus não é onipotente porque não consegue eliminar todos os males da terra. Quantas pessoas, na provação do mal e do sofrimento, deixaram de acreditar em Deus porque, dizem, ele não atende as suas preces! ‘Se Deus existisse, não deixaria que existisse todo este mal’. ‘Se Deus fosse todo-poderoso, não teria deixado morrer esta pessoa que eu amava’. Ficamos tocados no coração por esta pergunta radical. Também as crianças a põem. Os adolescentes igualmente. Os que acompanham os doentes e os ouvem ficam impressionados no mais íntimo do coração. E muitos outros a sentem em si profundamente» (Mons. Christophe Dufour, «Cinco pequenas catequeses sobre o Credo», Edições Salesianas, Porto 2012, 16).

          Deus não é rival do ser humano
A imperfeição da nossa linguagem para falar de Deus torna-se mais evidente quando pretendemos colocar Deus como rival do ser humano. E inventamos um Deus «controlador» da nossa liberdade. A onipotência de Deus não se assemelha aos desejos humanos de poder, de querer subjugar os outros, às vezes, a todo o custo, recorrendo, se necessário, à violência. A onipotência de Deus não se manifesta pela subjugação. O poder de Deus manifesta-se na fraqueza — diz São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios (12, 9). Por isso, a questão essencial que perturba e prejudica o nosso entendimento não é o tema da onipotência de Deus, mas a imagem ou imagens que temos de Deus. Purificadas as falsas imagens, que influenciam a forma como entendemos a religião, o atributo onipotente de Deus será acolhido de uma outra forma, essa sim mais próxima da verdade sobre Deus e o seu poder. 

         O mal
Outra das dificuldades está relacionada com a existência do mal no mundo. Exatamente porque Deus não «controla» a nossa liberdade, o ser humano pode ir até ao limite máximo de negar e aniquilar a dignidade do outro. Um Deus que impedisse o ser humano de agir, mesmo que fosse para impedir o mal, estaria a negar-se a si mesmo. O homem e a mulher tornar-se-iam numa espécie de «fantoches» manobrados por Deus de acordo com o que lhe aprouvesse em cada instante. Quando dizemos que Deus é «todo-poderoso» não estamos a afirmar que se trata de um poder arbitrário e intervencionista, para impedir o mal ou o sofrimento sempre que fosse necessário. Não é essa a identidade de Deus! «O teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, executado pelos nazistas, afirmou que ‘Deus é impotente e débil no mundo e só assim está conosco e nos ajuda’. É seguindo o exemplo de Deus que assume a debilidade humana, mas sem renunciar a combater o mal, que o ser humano aprende o seu ofício, combatendo o mal até ao extremo, sem nunca se resignar diante dele» (Marcel Neusch, «El enigma del mal», ed. Sal Terrae, Santander 2010, 184). 
A onipotência de Deus só pode agir «através da mediação da resposta livre daquele que é amado, daquele que diz: ‘Sim, eu creio’. [...] A fé invoca sobre nós o amor. A fé invoca sobre a humanidade a onipotência do amor de Deus» (Mons. Christophe Dufour, 19).

(adaptado do www.laboratoriodafe.net)

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